Crítica | Khalid - American Teen
álbum disponível no fim do post
Em um mundo onde a maioria dos artistas afro-americanos (os bons pelo menos) são uma voz para sua sociedade e comunidade, Khalid é uma revigorante exceção. Ele é o lembrete de que você não precisa ser branco para se preocupar com coisas simples, e de que precisamos músicas - boas - que não necessitem de tanta dedicação para serem apreciadas.
"American Teen", seu primeiro álbum, é exatamente sobre o que deveria ser. Um olhar sobre todas as preocupações, costumes e polarizações de felicidade e drama que uma adolescência comum traz. Ok, a produção é mais complexa e substancial que a maioria dos outros trabalhos Pop e R&B atuais, trazendo um sentimento praiano que nunca se apoia em sons ambiente preguiçosos, mas se envolve em batidas fluídas remetem à essa atmosfera de maneira coesa com a era tecnológica na qual vivemos. Alguém poderia rimar em cima dessas batidas, mas Khalid é um cantor excepcionalmente talentoso, com um peculiar, mas interessante sotaque e algumas ótimas inspirações para escrever músicas.
Pense em "Location", seu principal single e uma das melhores faixas de 2016, e em quantas vezes você se pegou pedindo a localização de alguém. Em seus melhores momentos ele traz assuntos comuns na vida de um adolescente americano. Na brisada "Saved", ele mantém o contato da pessoa para caso as coisas funcionem algum dia. Em "Young Dumb and Broke", ele resume a vida dele e de seus companheiros de idade em: pouco dinheiro, inteligência ou experiência, mas muito amor pra dar. Em "8TEEN", ele faz todas as coisas estúpidas que alguém da sua idade faz, enquanto ainda mora na casa de seus pais. "Another Sad Love Song" é tanto um abraço quanto um repúdio ao forte drama que envolve esta fase da vida. É uma primeira metade maravilhosa, na qual ele relaciona sua vida pré-fama com a de todos que são como ele, de forma uma maneira que somente em um álbum de estreia se pode fazer.
"'Location', quando eu ouvi o loop da batida. Eu estava tipo 'Ei, toca de novo'. Então depois daquilo meio que me lembrou dos ringtones de celular" - Khalid
Ele não produz nenhuma das faixas, trabalho que fica a cargo de um grupo tão desconhecido de produtores que a maioria não tem sequer uma página na Wikipedia. No entanto, conseguem estabelecer uma identidade sonora aqui, mesmo que ainda existam variações e sugestões de outros interesses musicais, alguns interessantes, outros nem tanto. "Hopeless", por exemplo, possui uma vibe eletro mais pesada e conta com um dos melhores vocais do álbum. Já o violão de "Cold Blooded" e a preenchedora orquestra em "Winter", que por si só é uma antítese interessante ao nome da canção, parecem vindas de outro álbum.
Mas se existe algum problema nesse disco é a disparidade entre as duas metades dele, uma vez que a porção final do álbum perde muito da estamina. "American Teen" conta com 15 músicas que poderiam virar 10 facilmente e tudo teria terminado muito bem com os vocais da maravilhosa "Therapy" e o flow contagiante de "Keep Me". A primeira, começa assim, "Something that you're doing has me falling all the way / I'm tripping off your love and all the other drugs we taking / Over all the others, you're the one all over me / I need your therapy". Flow, letras, composição. Tudo estranhamente simples, mas sedutoramente original.