Quem vai ganhar o Oscar 2024?

Uma celebração do cinema médio.

Faz mais de 10 anos que escrevo sobre Oscar na internet e nessa década não teve um ano que me fez sentir tanta indiferença a premiação como 2024. Isso se dá por dois motivos: a corrida sem graça, em que os favoritos de quase todas categorias foram definidos bem cedo fazendo com que se perdesse um pouco a graça da brincadeira; e o nível dos filmes indicados. Não lembro de outro ano que o conjunto de filmes celebrados é tão morno, lembro de anos ultrajantes com filmes terríveis que causavam revolta e outros que pelo menos duas ou três produções traziam algo interessante. Em 2024 fico apenas com Oppenheimer como um indicado que realmente posso dizer que gosto, os outros nove têm altos e baixos mas são filmes esquecíveis que não me despertaram nenhuma paixão ou sequer muito ódio.

Do ponto de vista do público, a premiação segue tentando se aproximar das pessoas que vão ao cinema. Se ano passado as duas maiores bilhterias do ano foram indicadas a melhor filme (sem chance alguma), em 2024 o primeiro e o tercerio filme que mais fizeram dinheiro para hollywood estão na premiação (e um deles é favorito!). É inegável que a Academia está trabalhando para voltar a ser relevante e acredito que esteja conseguindo, a revolta das não indicações de Barbie em atriz e direção são uma boa prova disso. Depois de 2023 não ter sequer um filme de herói ou de franquia relevante, a premiação do dia 10 de março vai refletir, de fato, o que foi o cinema do ano: um pouco perdido, com filmes mornos e um grande evento de marketing bem no meio.

Com Gerwig, Nolan, Lanthimos, Bradley Cooper, Glazer, Payne e Triet fica nítido que se favoreceu uma festa para gerações mais novas do cinema, um convite para o público visitar nomes que estão em destaque nos últimos 10 anos. O Oscar de 2024 quis refundar hollywood, praticamente excluiu a Netflix da cerimônia e se firmou nos nomes que mencionei a cima (mais Scorsese, o vovô que nunca foi excluido) para tentar nos convencer que a indústria ainda é capaz de criar sucessos que não usam capa. Não acho que isso vai colar e não acho que esses sejam os melhores exemplos de bom cinema nos Estados Unidos (a exclusão de Haynes e Mann é injustificável), mas tenho impressão que domingo vamos assistir a uma premiação muito ansiosa para ser importante e para convencer o público a dar uma chance para o cinema mais barato dos estúdios.

Bom, e quem vão ser os vencedores do Oscar 2024?

Curta-Metragens

  • Documentários: Essas categorias sempre podem surpreender, com os filmes menos comentados e não elegíveis para nenhuma outra categoria a gente fica na dúvida sobre quanto cada um realmente vai impactar os eleitores do Oscar. A categoria dominada por jornais e revistas norte americanas tem dois concorrentes considerados favoritos “the ABCs of book burning”, distribuido pela paramount sobre o tema da censura e o que considero ser o mais forte: The Last Repair Shop, lançado pelo Los Angeles Times e que passa por diversos assuntos sensíveis glorificando o papel da arte na vida das pessoas.

  • Animação: Duas produções lideram essa corrida: o meu favorito “Letter to a Pig” chega com currículo, premiado em diversos festivais e um conto sobre o holocausto e seu legado. Do outro lado “War is over!” carrega três nomes de peso: Thomas Newman, John Lennon e Yoko Ono, baseado em uma música pacifista de natal do casal, a animação tem bastante chance de ganhar, mesmo que eu aposte na sensibilidade do holocausto esse ano.

  • Live action: Das três categorias de curtas é a que parece mais simples, um dos dois prêmios que a Netflix ganhará na noite e o primeiro Oscar da carreira de Wes Anderson por seu “The Wonderful story of Henry Sugar”, o filme mais palatável do diretor em anos e que certamente conquistou os votantes da Academia.

Categorias Técnicas

  • Melhor Trilha Sonora: Aqui começo a prever “Oppenheimer”, não teve nenhum momento que esse prêmio não foi de Ludwig Göransson.

  • Melhores Efeitos Especiais: Uma das poucas categorias que parece estar aberta. “Resistência” parece levar vantagem, com um intenso e impressionante processo de produção, concorrendo contra “Godzilla minus one”, forte candidato que sem dúvida impressionou muito o público, mas dentro do universo do Oscar parece ficar atrás do filme de Gareth Edwards.

  • Melhor Figurino: Na minha visão, “Barbie” chega muito fraco no Oscar e por isso parece que no momento “Pobres criaturas” leva vantagem nessa categoria, mas não é meu palpite mais seguro.

  • Melhor Som: Mais um para conta de “Oppenheimer”, se falou por alguns minutos se “Zona de Interesse” não poderia surpreender e a resposta é: não.

  • Melhor Edição: Parte fundamental da grande vitória de “Oppenheimer”, pois edição é a categoria mais associada ao prêmio de melhor filme.

  • Maquiagem e cabelo: O segundo e último prêmio da Netflix na noite que conseguiu garantir esse prêmio para “Maestro” depois de uma intensa e fracassada campanha.

  • Melhor Música Original: Com duas canções de “Barbie” disputando como favoritas (nenhuma delas é a melhor música do filme), a música de Billie Eillish “What was I made for” que já ganhou diversos prêmios esse ano, inlcuindo o Grammy de melhor canção, vai ganhar.

  • Melhor Direção de Arte: Outra categoria que “Barbie” parece favorito para alguns, na minha opinião vai dar “Pobres criaturas” que ganhou o sindicato dos diretores de arte e o BAFTA dessa categoria.

  • Melhor Fotografia: Acredito que mesmo que perdesse todos prêmios da noite, “Oppenheimer” ainda seria favorito para melhor fotagrofia.

Longas-Metragens

  • Melhor Documentário: O caso de amor entre Hollywood e propaganda anti-rússia, que tornou essa categoria praticamente inútil, continua e o capítulo desse ano se chama “20 Days in Mariupol.

  • Melhor Filme de Animação: A categoria mais disputada do ano! “Aranhaverso 2” contra “O menino e a garça”. O primeiro é a sequência de um ganhador e o segundo é do maior diretor de animação de todos tempos, que está com idade bem avançada e é o único diretor que ganhou o prêmio com um filme que não é em inglês. Eu acho que a animação japonesa está na frente. A vitória no BAFTA é um bom indício e também o fato que provavalmente é o último filme do Miyazaki pesam a seu favor. Pesa contra Peter Parker que “Aranhaverso 2” é a primeira parte da história, o que no Oscar já significou que os votantes esperaram acabar o filme para o premiar.

  • Melhor Filme Estrangeiro: Sem “Anatomia de uma Queda” essa categoria perdeu toda graça, “Zona de Interesse” ganhará sem problmas.

 

Ator e Atriz Coadjuvantes

  • Melhor Ator Coadjuvante: Quando finalmente conseguimos deixar o MCU para trás seu maior rosto: Robert Downey Jr será agraciado por “Oppenheimer”.

  • Melhor Atriz Coadjuvante: Da’Vine Joy Randolph teve um grande ano e sua participação em “Os Rejeitados” será justamente laureada para coroar seu 2023.

As Seis Principais

  • Melhor Roteiro Original: Ainda com burburinho em torno de “Os rejeitados”, acredito que esse Oscar vai para “Anatomia de uma Queda” consolidando o crescimento dos votantes internacionais no corpo da Academia.

  • Melhor Roteiro Adaptado: É possível uma vitória de “Oppenheimer” aqui também? Sim, mas eu acho que é mais o perfil do Oscar premiar “Ficção Americana” com melhor roteiro..

  • Melhor Ator: Se tentou criar a impressão que Paul Giamatti brigava por esse prêmio, mas a cada domingo Cillian Murphy ganhava mais e mais prêmios por e “Oppenheimer” é o franco favorito.

  • Melhor Atriz: Sem dúvidas há disputa aqui. Aliás, antes do prêmio do sindicato dos atores se entendia que Emma Stone era a favorita para ganhar o prêmio. Mas a vitória de Lily Gladstone por “Assassinos da Lua das Flores” entre os seus pares é muito grande para se ignorar, e por isso acho que ela ganha o Oscar também.

  • Melhor Direção: Muitos na internet esperavam há anos (pelo menos desde “A Origem”) para ver Christopher Nolan ganhando o Oscar de Melhor diretor e em 2024 o diretor chegará lá com “Oppenheimer”.

  • Melhor Filme: Se minhas contas estão certas, “Oppenheimer” chegará ao fim da noite de domingo com 8 estatuetas, incluindo a mais importante.

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