Crítica | Capitão América: Guerra Civil

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 "Guerra Civil", que daria um ótimo "Vingadores 3", veio com a proposta de revirar o universo cinematográfico da Marvel e é um de seus filmes mais ousados, além de uma evolução definitiva em relação à  "A Era de Ultron". 

 Um dos principais acertos do filme é sua motivação forte, pertinente, e real. Era óbvio que depois de tantos estragos deveria ser tomada alguma medida quanto aos Vingadores e seu poder destrutivo, e isso funciona muito bem para desenrolar o enredo. Não é um filme sucinto mas também não é um "Era de Ultron", que praticamente não faz nada a não ser preparar filmes futuros. "Guerra Civil" acerta muito bem seu tom e se detém ao que quer mostrar, apesar de que mais humanização e envolvimento externo na chamada "guerra" fosse essencial para fazer valer seu nome e representar melhor a história que adapta.

O filme poderia ser facilmente dividido em dois. A decisão de juntar tanta ação e acontecimentos em um filme só passa a impressão que sobra pouco espaço para a história propriamente dita. 

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 À essa altura, todos os atores já dominam muito bem seus personagens, que por sua vez já estão muito bem desenvolvidos, mas mesmo assim ainda há espaço para mais aprofundamento. Todos tem motivações verdadeiras para escolher seu lado, mesmo que passem por diversas dúvidas. Vemos um Tony Stark vulnerável e pela primeira vez confuso sobre o que pensa. Viúva Negra se vê em um forte conflito interno, apesar de que um pouco superficial. Falcão e Máquina de Combate ganham mais importância e sua participação não deve ser subestimada, sendo ambos imponentes em suas funções. As adaptações de Feiticeira Escarlate e Visão à sociedade são pontos altos do roteiro, e ambos foram responsáveis por meus momentos de atuação favoritos do filme. A primeira sofrendo por seus atos (apesar de já ter esquecido completamente seu irmão...) e o segundo tentando entender o comportamento humano. Gavião Arqueiro continua sendo um personagem pouco importante, mas não compromete dentro de sua função.

 É importante ressaltar que este é sim um filme do Capitão América, e suas ações são o que dão rumo à história. Chris Evans está muito bem e sua química em combate com Bucky é excelente, apesar da mesma esfriar toda vez que ambos decidem conversar. Uma ressalva que deve ser feita é que o senso de heroísmo envolvendo Rogers é o mais duvidoso dentre todos os heróis. Poucas vezes me peguei torcendo ou acreditando que seu lado era o certo, o que funciona para o contexto de um filme de vários heróis, mas não tanto quando lembramos que é um filme seu.

Dentre todos os heróis novos, reutilizados ou introduzidos, nenhum impressiona mais do que Chadwick Boseman e sua interpretação excepcional como Pantera Negra. Em seu uniforme simples e intimidador, é facilmente o herói mais imponente e interessante introduzido em anos. Suas motivações são convincentes e sua evolução é feita de forma genial ao longo do filme. É um herói que você torce, teme e admira. 

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Tecnicamente "Guerra Civil" é um pouco inferior à filmes anteriores em certos momentos, mas em sua maioria é um espetáculo visual. A aparência dos heróis computadorizados é bem feita, como sempre, e as roupas físicas tem um senso de realismo e imponência próximos à trilogia "Batman" de Nolan. Um dos poucos erros técnicos está na sequência de fuga em que Bucky pula de um prédio para o outro, onde claramente há um erro de edição, que quase se repete com o Capitão América segundos depois. Alguns pequenos problemas de edição, entretanto, são pouco importantes perto da ação eletrizante que vemos. As lutas são sonoras e climáticas, e cada combate vale muito e foi enfatizado da maneira certa, tanto visual como conceitualmente. Certas cenas são épicas e feitas de forma minuciosamente realista. O tão esperado combate entre Homem de Ferro e Capitão América é pesado e sua relevância é clara, além de ser perfeitamente encenado e editado. O único outro erro é quase compensado por um dos pontos mais fortes do filme, que será comentado no parágrafo abaixo. 

Tom Holland é um Homem Aranha ESPETACULAR. Como Peter Parker ele tem uma abordagem diferente das anteriores, mais próxima à personalidade feliz e envergonhada de Tobey Maguire no primeiro filme, e que funciona de forma excelente pela sua naturalidade. Seus diálogos lembram muito o Peter Parker que conhecemos dos quadrinhos e desenhos e sua introdução junto ao grupo foi feita muito bem. Dependendo de como seu filme funcione, pode certamente ser o melhor Homem Aranha do cinema. Há apenas dois pontos fracos, e um deles deve ser consertado no futuro. O primeiro é sua tia. Marisa Tomei é uma mulher linda, mas a tia May para mim e para muitos fãs será sempre a senhora velhinha, conselheira e vulnerável. O outro é seu uniforme, o principal ponto de discussão dos trailers, que teve um tratamento quase preguiçoso do estúdio. Visualmente é interessante e bonito, mas quando se movimenta é como se o CGI saltasse aos olhos. Conforta saber que ele será consertado no futuro e que teremos um novo bom e velho amigo da vizinhança. 

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'Guerra Civil' tem dois problemas verdadeiros. Zemo é um vilão com motivações fortes e entendíveis, é quase como se fosse possível concordar com ele, mas seu plano é cheio de furos e conta com conveniências que quase subestimam a inteligência do público. O outro problema foi a escolha de se fazer apenas um filme de uma história tão rica. Stark descobrir que toda a luta poderia ter sido evitada momentos após a mesma acontecer é algo enfadonho e previsível, e poderia facilmente ser deixado para uma segunda parte, onde o contexto "guerra" poderia ser mais forte. Tanto o começo quanto o fim parecem não engrenar, e não dão a dimensão que o filme merece. É como se a "guerra" fosse resolvida em questão de dias. 

 Antes de concluir, há uma cena que deve ser comentada. A sequência do aeroporto, que poderia ser desnecessária em outra situação, é uma das melhores, se não A melhor, sequência de luta dos últimos anos. O modo como cada herói influencia no combate, as rixas particulares, as relações mais próximas. Tudo é perfeitamente encaixado. Sonoramente tudo é climático e imponente, e nada ficou fora de lugar. É preciso aplaudir a Marvel por essa sequência. O humor que é pouco presente durante o filme, o que foi um acerto, é hilário aqui. O Homem Aranha (que por um acaso parece muito forte) e principalmente o Homem Formiga não erram praticamente nenhuma piada. Destaque para uma envolvendo Star Wars e outra sobre uma habilidade secreta. 

'Capitão América: Guerra Civil' é um dos melhores filmes de super herói de todos os tempos. Ainda está um pouco atrás de Vingadores por questões de coesão, envolvimento dos heróis com a sociedade e de não ter um vilão a altura, mas é melhor em ação e praticamente tão impressionante quanto em efeitos. O que poderia ser apenas mais um filme de aquecimento para "Guerra Infinita" toma proporções gigantescas, e é cinema feito com excelência.

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