Crítica | Os Sete Samurai
Tenho assistido muitos filmes da Era de Ouro do cinema Japonês e, é claro, o cinema do país tem como maior expoente pro resto do mundo o mestre Akira Kurosawa.
É difícil escrever qualquer coisa que não tenha sido dita sobre esta que é, para muitos, sua obra prima e uma das maiores da história da sétima arte. Mas vou tentar.
Influente em todas as esferas do audiovisual, desde remakes diretos como “Sete Homens e um Destino” e “Vida de Inseto”, à sua inegável presença em quadrinhos (“Ultimato”) e mangás (“Dragon Ball”), este é um dos, se não o primeiro filme a trazer um time se unindo para uma tarefa, que consiste em proteger uma vila de bandidos.
Como disse antes, é praticamente inútil discutir aspectos técnicos, sendo que esse filme já foi destrinchado de todas as maneiras possíveis, mas como não resisto, aqui vão alguns apontamentos (spoilers, é claro): adoro a maneira como Kurosawa compensa pelo fato de não vermos lutas elaboradas, que evidenciariam as habilidades dos Samurai, ao deixar seus feitos fora da tela, o que acaba gerando um senso de mistério e curiosidade acerca daquelas figuras. Também é interessante como Kurosawa os mostra mais como homens comuns e menos como símbolos, algo que o sempre brilhante Takashi Shimura reforça ao falar, no final, que foram os fazendeiros que venceram, não eles. Isso, além de aproximar eles de nós, o público, também nos faz sentir mais por suas mortes, que pouco ou nada são dramatizadas. Inclusive o filme tem um tom leve, que preza pelo entretenimento e pela catarse de ver os esforços de Samurai e fazendeiros dando certo.
Kurosawa é um gênio absoluto na construção de suas batalhas, as fotografando com energia por cenários tortuosos e não tão simples de se encenar, colocando cenas engraçadas e tensas no meio, com uso de bloqueios de cenário e de antecipação vinda pelos sons. Outro momento interessante de se apontar é quando os Samurai ateiam fogo no esconderijo dos bandidos, em uma cena pesada e que mostra, brevemente, a unilateralidade que adotamos perante a história: os bandidos também tem seus motivos, e vê-los sendo mortos não é algo prazeroso. E Kurosawa sabe disso.
Mas ainda assim, a melhor forma de exemplificar minha relação com este filme está na quantidade de emoções que experienciei o assistindo. Separei as horas de um sábado, preparei um lanche, dei play e, simplesmente, me deixei levar. Apesar de já ter visto aquela história antes tantas vezes, pratico constantemente um exercício mental que gosto de chamar de empático, mas que tem uma ponta de inveja: como foi para as pessoas que NUNCA viram algo como aquilo, no momento que assistiram? É uma sensação que, infelizmente, jamais terei, mas apenas imaginá-la me fez viajar décadas ao passado, algo que atingiu seu ápice na intermissão entre as duas metades do filme, onde pude, por breves momentos, me sentir no cinema depois de mais de um ano de pandemia.
E apesar de, obviamente, hoje os recursos técnicos permitirem cenas de combate em alta escala com maior grau de “veracidade”, não acho que nenhum de seus muitos filhos (e amo vários destes) tenham feito de forma tão graciosa como “Os Sete Samurai”, que entre a nobreza de Shimura e a pura energia de Mifune (que inspiraria Goku!) mostram que cinema é, além de uma arte, uma experiência que se beneficia do coletivo.