Crítica | Onibaba: A Mulher Demônio
Apesar de ser classificado por muitos como terror e por alguns como drama, “Onibaba” é… outra coisa.
Escrito e dirigido por Kaneto Shindo, o filme é um daqueles que amantes do cinema, e principalmente do terror, devem esbarrar uma hora ou outra. Nele, uma mulher e sua nora sobrevivem roubando de cadáveres e vendendo seus pertences, enquanto moram isoladas em um matagal para escapar da guerra. Até que um soldado fugitivo volta às bandas e “coloca” uma contra a outra.
A aura é inteira sugestiva, Shindo passeia a câmera por aquele mato como se algo sempre pudesse surgir, fazendo da cabana o único lugar aparentemente seguro. Também por isso, quando o samurai aparece com a máscara de demônio é genuinamente assustador, mas diria que nosso medo só acontece ali em relação ao desconhecido, sendo que o verdadeiro terror aqui reside no medo que a personagem de Nobuko Otowa, a sogra, tem de ficar sozinha.
Mas ainda assim, é como se o filme tratasse tudo com um senso de ironia tragicômica, muito por causa dos closes e enquadramentos quase exagerados dos rostos, que me parecem consideravelmente influentes na criação da linguagem do terror no cinema. Mas essa “tragironia” funciona mais por nos colocar como observadores ativos dos caminhos que cada um dos três personagens traça. As motivações de cada um são compreensíveis: em um mundo em guerra, prestes a morrer, qualquer prazer que possa te distrair surge como algo irresistível.
Por isso quando vemos a menina com medo de algo que, pra nós, não provoca, é como se o filme te fizesse sentir uma pena com escárnio daqueles personagens, ao mesmo tempo que te faz entender as necessidades físicas e emocionais deles.
Quando algo finalmente surge do mato, aquele algo não se torna assustador se você sacar o que é - eu saquei, e não sou bom nisso -, mas narrativamente beira o genial porque mostra como o medo da sogra, de solidão, faz ela se tornar "má", também colocando em choque um medo muito mais adulto como o dela com a infantilidade da menina, que ainda acredita em fantasmas com uma guerra, provando que a humanidade é pior que qualquer demônio, logo ali.
Ainda assim, a reviravolta no final sugere sim o sobrenatural como um castigo do mundano, porque ao sucumbir ao medo provocando em outras pessoas, a mulher mais velha se amaldiçoa pra sempre.