Crítica | Folklore - Taylor Swift
*álbum disponível ao final do texto.
Folklore é uma mistura de alguns dos momentos mais mágicos de Taylor Swift mesclado com músicas que poderiam ser esquecidas em algum filme da série Crepúsculo.
E não se enganem. Essa transição de sentimentos é frequente quando falamos de uma das artistas mais populares da nossa geração. Taylor Swift sabe compor linhas e melodias que trazem a tona as emoções mais ingênuas de um ser humano. Seus versos (mais antigos) nos fazem retornar a uma noite de nossa adolescência em que vivenciamos a dor de um amor pela primeira vez, quando ainda entendíamos pouco mas achávamos que sabíamos de tudo.
Apesar de nunca declarado fã da cantora, sempre admirei períodos pontuais de sua carreira. Falo sério quando digo que Taylor Swift recebe um ódio público desproporcional e descabido. A indústria abraçá-la em forma e peso gerou, desde muito cedo em sua vida, um ódio recreativo sobre uma literal adolescente - coisa que a maioria de nós não faria a mínima ideia como lidar. A questão é que a música de Swift, como um todo, e repetidamente (quase sempre pra falar a verdade), parecia estagnada em algum lugar de sua própria inocência forçada (ou até obrigatória devido a imagem criada). Bom, isso acaba, aqui.
A autenticidade atrelada a ela sempre foi um de seus carros chefes. A preferência por letras simples e diretas, pouco engenhosas, mas cheias de sentimentalismo (Why can’t you see-e-e; You belong with me-e-e), e uma produção mais trivial ainda era um prato cheio para um público mais “infantil”. Não faço ideia do quão profundo foi o isolamento de Taylor, mas seu momento forçado de introspecção nos traz uma música contraditória ao seu currículo e que acaba por ser uma das melhores assinadas em seu nome. Epiphany tem a sonoridade exata de um momento de catarse quase divino em sentimentalismo. O órgão absolutamente lindo, crescendo conforme a faixa progride, acompanha a narrativa sombria, todavia esperançosa e metafórica, comparando a atual pandemia com uma guerra literal. Seus vocais são tão grandiosos quanto sua produção. É como morrer lentamente, no melhor dos sentidos, sem ironia alguma, se é que faz sentido. Meus últimos 5 minutos de vida poderiam tranquilamente ser essa música.
A ideia de abraçar mais o lado melancólico do amor em sonoridade continua com Exile (com a participação de Justin Vernon, Bon Iver) e This is me trying. A primeira talvez seja um dos grandes duetos dos últimos anos. Vernon explora seu tom de voz quase subterrâneo e a partir do momento que as harmonias vocais mais distorcidas do cantor aparecem como apoio, percebemos o privilégio que é ouvir sua voz tão limpa. Os registros discrepantes entre os dois se encaixam de maneira tão inesperada quanto uma notícia positiva nos dias de hoje. Vernon, mais irritado e incisivo, Swift, mais calma e segura. Ambos tratam suas performances de maneira tão devota que os visuais explodem na nossa cabeça. A interpretação perfeita de uma relação frustrada choca principalmente na ponte, onde o piano ganha a força de uma avalanche e os violinos preenchem mais o espaço do que o próprio ar. É tão intoxicante quanto a segunda faixa supracitada, infestada de Reverb na voz de Taylor e instrumentos magnificentes, porém satisfatoriamente contidos, sendo a melhor produção do álbum (não surpreende quando vemos que Jack Antonoff cuidou de absolutamente tudo aqui).
The Last Great American Dinasty traz cor à vastidão da floresta cinza que Taylor se mostra na capa do álbum. Talvez a música que mais se enquadre ao Pop do LP, tocando o Folk, é genuinamente enriquecedora. O contar de uma história fictícia que alcança o mundo real sob a voz de alguém que parece confortável em criar cenários e adaptar momentos (pela primeira vez de forma convincente) soa muito bem. Na mesma toada, Betty possui mais dessa polidez incrível quanto ao Storytelling de Swift. Narrando seu próprio livro de bolso, em primeira pessoa, com vários personagens, abraçada de vez Folk, acompanhada, durante grande parte do tempo, por apenas uma gaita de boca e seu violão, escancara o nível cinemático do álbum e a qualidade de sua masterização. Tudo é claro de se ouvir e a maioria das melodias aconchega a imaginação, estimulando a gênese imparável de cenários e paisagens fictícias.
Porém, os dois grandes - e por grandes digo enormes - problemas do álbum se manifestam pela falta de originalidade evidenciada em dois formatos distintos. A primeira, menos impactante, ainda assim expressiva dentro experiência auditiva que é Folklore, se constitui pelo fato de que Cardigan, primeiro single do LP, seria legal se fosse apresentado como um cover em algum vídeo da BBC Radio 1. É necessariamente uma música de Lana Del Rey cantada por Taylor Swift tentando personificar Lana Del Rey. Acreditem, soa mais estranho ainda ouvindo a produção abstrata e os vocais sussurrados por si só.
A principal objeção aqui se dá pela disfuncionalidade das faixas 5 à 8, mais especificamente My tears ricochet, Mirrorball, Seven e August. Dispensa profunda análise por sua própria falta de profundidade. Infelizmente essas 4 músicas estruturalmente são essenciais. Como? Imagine “O Regresso”, filme que conta com Leonardo Di Caprio. Esteticamente lindo, inicialmente estonteante, incrível e convincente em sua conclusão, durante seu segundo ato é capaz de desinteressar o mais empolgado dos espectadores, fazendo suas 2 horas e 30 dobrarem de tempo, e, assim, fragilizando seu valor final pela necessidade de uma transição entre dois ótimos segmentos mais consistente.