Crítica | Nada de Novo no Front
Nada de novo no filme de guerra.
Com uma capacidade excepcional na criação de imagens, o épico perde sua potência por conta de um roteiro repetitivo.
A primeira, e mais entusiástica, reclamação que tenho em relação a “Nada de Novo no Front” é que por ser distribuído pela Netflix não é possível ver uma película com uma mega escala de produção e proposta imersiva em uma sala de cinema. Isso impacta a recepção em quase todos aspectos, o ritmo lento se torna massante, os quadros bem compostos ficam pequenos, a grandeza visual se perde em uma tela que não é a tela para qual esse tipo de filme é feito. Como essa é a escolha da distribuidora do longa-metragem, não tem nenhuma maneira além de pensar sobre essa obra sem ser do único jeito que foi permitido que a gente visse ela. Mesmo assim, o filme de Edward Berger é capaz de criar vários momentos para explicitar a mensagem anti-guerra, com sequências violentas no campo de batalha onde a gente testemunha com muita nitidez os horrores do front.
“Nada de Novo no Front” constrói sua história principalmente em torno do jovem Paul Baumer (Felix Kammerer), que em 1917 decide se alistar com seus amigos para lutar na Primeira Guerra Mundial contrariando a vontade de sua mãe. Seu desejo otimista de honrar seu país rapidamente se choca com a dura realidade da guerra de trincheiras e um de seus amigos morre já na primeira noite no front de batalha. Boa parte da trama mostra Paul navegando as dificuldades da guerra e também criando vínculos com outros soldados enquanto realizam missões ou roubam gansos de fazendeiros para se alimentar. Uma trama secundária que se alterna com essa é com políticos e oficiais alemães debatendo as possibilidades de um armistício, essa parte é centrada especialmente em torno de Matthias Erzberger (Daniel Bruhl) um político que tenta encerrar o confronto e precisa lidar com as fraturas internas do povo alemão para isso.
O maior destaque é a capacidade de compor quadros para destacar as mensagens desejadas, isso aparece desde a primeira cena em que a câmera se aproxima lentamente de algo que parecem árvores na neve para lentamente nos mostrar que se tratam de corpos de jovens soldados. Mesmo nas cenas mais tensas como no bombardeio a noite, a fotografia não se esconde atrás de filtros escuros e opta por nos mostrar o contraste de cores das explosões, do sangue, das mortes, das nuvens e da fumaça. Todos esses momentos dos soldados se conectando, também são momentos que nos conectamos com os protagonistas e criamos alguma simpatia por eles. O roteiro nos propõe um ritmo lento para tudo isso, que alternado com a trama dos grandes políticos faz os 147 minutos de duração parecerem mais longos do que já são, algo que é acentuado pela repetição de ideias: os políticos sempre comendo banquetes enquanto os soldados passam fome, os políticos em grandes ambientes enquanto os soldados estão na trincheira, algo já bem utilizado no cinema aqui é repetido a exaustão.
“Nada de Novo no Front” tem uma proposta importante, se opõe ao discurso da guerra, mostra como os setores militaristas da sociedade fazem jogos com as vidas dos jovens os convencendo a lutar por uma ideia de nação que só interessa aos mais ricos. Também faz isso nos fazendo simpatizar com os meninos que são obrigados a lutar e morrer na guerra que não é sua, enquanto seus representantes discutem divisões de riquezas e os tratam como descartes cada vez que perdem as vidas, os substituindo por outros milhares de adolescentes que sonham com a glória de se incorporarem ao Estado como heróis. Faz isso, porém, sem trazer nenhuma ideia nova ao debate, se sustentando em truques visuais eficientes, mas que não são suficiente para entrar de vez na discussão pública em um momento delicado em que memórias da formação sangrenta das nações no mundo está em disputa.