Crítica | Batem à Porta
m. Night Shyamalan explora seus pontos fortes em um excelente thriller.
O aclamado diretor parte de um roteiro adaptado por terceiros para contar uma fantástica história sobre amor no fim do mundo.
É difícil fazer uma conversa sobre qualquer filme de Shyamalan sem falar sobre ele, e apesar disso, é importante apontar que algo que se destaca nessa produção são justamente as diferenças para o estilo de história que fez o diretor ficar conhecido, mesmo assim é nítido o estilo dele. De certa maneira, ele mesmo se coloca na discussão sobre seu trabalho, nesse caso temos uma mensagem dele direcionada para o público sobre o filme que iremos assistir em seguida para nos lembrar quem é está por trás dessa produção, para sempre termos em mente que se trata de um filme de M. Night Shyamalan. E, apesar de não se tratar de uma história escrita por ele, que reescreveu um roteiro da black list adaptado de um best seller, a premissa lembra muito as dos seus filmes. Um thriller sobre uma família que é obrigada a escolher sacrificar um dos seus para salvar o mundo.
Isso é algo que sabemos a partir dos primeiros minutos, depois de uma eletrizante cena em que Dave Bautista conversa com uma menina em uma floresta na frente de uma cabana, a menina, que depois descobrimos ser Wen (Kristen Cui) nos conta que está lá com seus dois pais Andrew (Ben Aldrige) e Eric (Jonathan Groff). Na cena seguinte, quatro estranhos liderados por Leonard (Bautista) invadem a cabana que a família está hospedada e explica para eles e para o público a premissa da história. Os quatro explicam que são pessoas comuns e desconhecidas que após terem as mesmas visões do fim da humanidade receberam a missão de obrigar a família protagonista a fazer um sacrifício pela humanidade. Eles explicam que há várias regras, uma delas é que cada vez que a família se recusar a escolher qual dos seus vai morrer, eles irão liberar uma das pragas do apocalipse.
O roteiro é bem simples e direto, cada ação é explicada e rapidamente compreendemos a dinâmica entre todos personagens, Andrew é mais pragmático e impulsivo, Eric pensa mais sobre suas ações. Isso além de ficar nítido pelas relações dentro da cabana também é explicitado por flashbacks que soam redundantes, antes de os estranhos explicarem sua missão temos um momento em que Andrew pode escapar com sua filha mas fica para trás ao ver seu marido ferido. A dedicação e o amor de um pelo outro são testados e são o motor de todas ações até o último momento da trama. Do outro lado, os quatro escolhidos também têm são arquétipos no filme e seu papel na trama é refletir sobre os aspectos bons e ruins da humanidade, já que os protagonistas devem querer salvar todo o mundo.
Como de costume, Shyamalan filma tudo com sua identidade única, os quadros criam sensações únicas que dialogam a todo momento com a maneira como devemos nos sentir, e sua habilidade única de fazer a gente sentir medo, angústia, alívio e ainda simpatizar com todos personagens é fundamental para o funcionamento do filme. Atuando como o principal antagonista da história, Dave Bautista rouba a cena com o melhor trabalho da sua carreira, que conduz e explica para nós e para a família tudo que está em jogo, sempre nos colocando em dúvida qual sua verdadeira motivação com um carisma que me fez torcer para que ele estivesse falando a verdade sempre. “Batem à Porta” pode parecer um pouco óbvio em alguns momentos, mas o seu poder de síntese sobre os temas, as lições, o peso das escolhas e dos sentimentos é algo que me agradou muito, no fim das contas importa só o amor em tempos de fim do mundo.