Crítica | It: A Coisa
Reavivando todos os nossos medos de infância e qualquer fobia de palhaços,"It" consegue surpreender e tem a capacidade de agradar tanto os fãs dos livros quanto os amantes dos filmes de terror. O autor, Stephen King, acompanhou partes das gravações - e disse estar de total acordo com tudo que estava sendo feito no filme.
TALVEZ, O MELHOR FILME DE TERROR DE 2017.
Se você já assistiu a série baseada em "It" de 1990 com Tim Curry e não se assustou muito com o conteúdo, o diretor Andres Muschietti preparou um filme especial para você. "It" foi intitulado para maiores de 18 anos e com essa notícia já veio uma esperança. O longa se adaptou aos filmes de terror da década como "Invocação do Mal" e "Insidious", com um toque pessoal de "Stranger Things", série que, na verdade, tirou muitas de suas próprias inspirações do livro "It".
O filme se passa na cidade fictícia de Derry, onde uma série de desaparecimentos de crianças está assolando a cidade. O foco principal está em um grupo de sete crianças, o Clube dos Perdedores, e nas suas linhas narrativas, cada uma carregando estereótipos que caracterizam seus personagens. É passada a função principal para Jaeden Lieberher no papel de Bill ou B-B-Bill (como é chamado pelos seus amigos pelo fato de ser gago). A apresentação das crianças é bem forte, cada um possui uma função que irá determinar o desenrolar da história, são pequenos contos paralelos com o filme que dão o tom do enredo, além de algumas lições para a realidade bem presentes, como o bullying por exemplo.
"AQUI EM BAIXO TODOS NÓS FLUTUAMOS!"
A narrativa é linear, com uma boa introdução ao ambiente, passando a imagem de uma pequena cidade pacata que possui o mal escondido, algo realçado pela trilha sonora. A apresentação dos personagens é completada no primeiro ato do filme, porém deixa algumas perguntas sem respostas. Há um contexto entre algumas crianças e as suas famílias onde os adultos são vistos como os vilões e as crianças como heróis pelo público, e isso pode ter uma justificativa (que não irei mencionar para evitar o spoiler) porém não fica claro.
Toda a inspiração em "Stranger Things" entra nesse aspecto do longa, e não apenas por possuir um dos atores da série, caso de Finn Wolfhard, que interpreta Richie Tozier. Há muitas semelhanças entre as histórias envolvendo as crianças: o sentimento de união entre os pequenos e a descrença nos adultos, que não acreditam em um monstro para poder enfrentá-lo, são apenas dois dos vários paralelos que podemos traçar entre a série da Netflix e o longa. Também podemos citar filmes como "Goonies" e "Stand By Me" como possíveis (e prováveis) referências para "It".
Com uma harmonia perfeita entre a trilha musical de Benjamin Wallfish e os efeitos sonoros como os scores (comum em filmes de terror da atuais), toda a sonorização está contundente com o filme, não há falhas na comunicação entre estes pontos. O cenário está extremamente bem feito tanto na cidade quanto no esgoto, ambos passam seus devidos tons e nas horas certas. Os efeitos visuais também estão presentes no filme em momentos bem creepy, mesmo que mostrem algumas falhas na finalização do CGI. A maquiagem está a nível de grandes filmes de terror, e sim, há sangue - e muito!
"BEEP BEEP RICHIE!"
Agora, um dos fatores chave do filme são as atuações. Destaque especial para Sophia Lillis, que interpreta Beverly Marsh. Sua performance domina a câmera, às vezes até tirando o foco de outros personagens. O desenvolvimento de sua personagem funciona muito bem com o trabalho da atriz e toda a emoção, a frustração da vida de uma jovem que sofre sérios problemas com o pai é bem perceptível. Houve alguns problemas no roteiro em relação a alguns personagens do Clube dos Perdedores, como no caso de Mike e Stanley: ambos atores demonstraram ter um potencial maior do que lhes foi permitido mostrar no tempo em tela que eles tiveram.
E como anda o nosso querido Pennywise? Bill Skarsgård funcionou no papel? Bem, meus caros, funcionou. E muito bem! Tim Curry havia feito um ótimo trabalho com o personagem no passado, mas Bill conseguiu fazer com que o palhaço realmente fosse mais assustador para os nossos tempos. Créditos também para a direção e maquiagem.
O filme nos passa as consequências do palhaço e o que acontece quando você o encontra, parte disso devido ao fato de que os roteiristas tiveram uma liberdade maior para trabalhar com a idade mínima de 18 anos. O diretor Andres Muschietti já havia trabalhado na direção de "MAMA", filme de terror medíocre de 2013, mas aqui conseguiu entregar uma ótima adaptação, com uma grande produção bem executada e que já tem a sua sequência à vista para os próximos anos.
"It" é mais um dos filmes que inova no gênero de terror mostrando que não é somente com jumpscares que se faz um bom filme assustador: juntou elenco, roteiro e direção para fechar o arco e poder dar início a uma franquia que tem futuro promissor. A equipe foi corajosa em aceitar o difícil trabalho de adaptar a obra de Stephen King e conseguiu isso da melhor maneira possível. Vale muito a pena ir ao cinema acompanhar a história do Clube dos Perdedores e morrer de medo do famoso Pennywise, o palhaço dançarino.