Crítica | Daniel Caesar - Freudian
O amor é complexo e em toda sua complexidade amar é ambíguo. Daniel Caesar, em seu álbum de estréia, sucede em fazer o que poucos artistas conseguem apesar de muitos tentarem: Falar sobre o amor de forma autêntica, explorando toda sua vastidão, alegrias e tristezas.
Talvez "Freudian" seja um LP pertencente ao R&B, mas Daniel consegue juntar o melhor do gênero com o gospel. A similaridade entre esses dois estilos musicais são óbvias e não são recentes os exemplos de cantores que trazem um pouco da igreja para suas músicas, a diferença aqui é a forma com que Daniel traz a religião para dentro de seu álbum. Não achamos a fé do cantor evidenciada em suas letras. Essas, única e exclusivamente tratam sobre o amor interpessoal, sendo por sua mãe, como na música ''Freudian'', ou por paixões. Mas tudo, absolutamente tudo, desde o piano, até as harmonias e o tempo nos levam pro lado gospel de Daniel Caesar e é aí que se encontra uma das principais belezas do álbum em questão.
''Get You'' e ''Best Part'', com participações de Kali Uchis e H.E.R, respectivamente, compõe um começo ótimo para o álbum, que aliás conta com diversas participações. As vozes das duas cantoras são angelicais e brilham junto a Daniel, se complementando, muito em função de, em ambas faixas iniciais, os instrumentos soarem minimalistas. É quase uma troca de confissões entre dois amantes após acordarem juntos num domingo de manhã.
You're the coffee that I need in the morning
You're my sunshine in the rain when it's pouring
Won't you give yourself to me
Give it all, oh
You're my water when I'm stuck in the desert
You're the Tylenol I take when my head hurts
You're the sunshine on my life
"Neu Roses (Transgressor's song)" é cheia de camadas, metáforas e fala sobre relações prestes a terminar da forma mais relacionável possível. O jogo de palavras que pode ser feito aqui com o título é o meio termo entre ''New Roses'' e ''Neurosis'' (neurose). Os backing vocals de Nevon Sinclair junto às vozes femininas que norteiam a música até culminar em um ''desabafo'' de Daniel dão início a parte relativa a tristeza que é gerada da paixão, junto a ''Loose'', que apesar de ótimas são a parte menos atmosférica e envolvedora de Freudian.
Por outro lado, ''We Find Love'' e ''Blessed'', que aqui são faixas complementares (postas juntas em um EP de Daniel antes do lançamento de Freudian), se tornam o momento mais magnético do álbum. ''We Find Love'', junto ao seu piano e percussão pulsantes e alegres encontram uma certa paz reconfortante no término de uma relação, salientando que não é a última vez que encontramos o amor ou nos despedimos dele:
''We find love, we get up
And we fall down, we give up
We find love, we get up
And we fall down, we give up''
Em contraste com ela, "Blessed", que é facilmente a melhor música do álbum, é extremamente confessional e vulnerável. Fala sobre o amor com todo cuidado e carinho, mesmo sabendo tanto os contras quanto os prós de sua relação. Conforme os 4 minutos de Blessed passam e o piano junto a voz de Daniel delineiam uma linda carta, percebemos em alguns momentos que os arranjos engolem a voz do cantor, mais pela grandiosidade dos instrumentos aqui que por falta de alcance dele.
O álbum entra em sua fase final com mais duas participações. As excelentes Syd e Charlotte Day Wilson completam as features (todas femininas), representando a inspiração de todos amores da vida de Daniel Caesar. "Freudian", a música, representa o fim de "Freudian", o álbum, de forma honesta, cativante, admirável e surpreendente. Sua voz soa verdadeira e sua escrita mais ainda.