Crítica | Crescendo Juntas
Com a passabilidade de um subgênero da sessão da tarde, Crescendo Juntas despertou involuntariamente eu mesma há 8 anos atrás, com os mesmos ditos problemas que me atormentavam. Não me importava com o tamanho dos meus seios, até fazerem eu me importar; não me importava em beijar alguém, até dizerem que eu deveria; não me importava com a aparência dos outros e em como se diferenciava da minha, e muito menos julgava, até falarem que eu tinha que fazer isso. Nunca passou pela minha cabeça que eu deveria fazer todas aquelas coisas que naquela idade definiam-se maduras, e ainda por cima não ser a única que não fez ainda.
Se despedir da sua infância é algo que passa despercebido por muitos de nós. Mesmo que as mudanças sejam poucas, a rapidez com que elas são feitas passam tão depressa que nem vemos o tempo passar. E você nem espera pra se questionar quem é você agora? O que vem depois? O que espera do seu futuro? O que deseja? O que você supostamente deveria estar fazendo? A pressão que isso nos causa faz distanciar a mais clara resposta para todas essas perguntas: nada.
Esse amadurecimento que temos na mesma idade que Margaret, a protagonista do filme, acontece naturalmente e não precisamos forçar as coisas nem fazer com que andem mais rápido, como ela tentou e sua amiga Nancy também. Margaret passou o filme inteiro tão preocupada em não ser a última a passar por todas as situações que uma garota na sua idade passa, que nem percebe que tudo aconteceu no tempo que tinha que acontecer. Ela só tinha que esperar e viver sua vida sem torná-la tão complicada por resumir-se a um tamanho de sutiã e comprar absorventes.
Mas apesar de serem coisas fúteis para se preocupar nessa fase da vida, e apesar de serem coisas que aconteceram na hora certa, como menciona a mãe de Margaret, o filme mostra com simplicidade a novidade que é se descobrir durante a juventude.
Como qualquer outro Coming of Age, Crescendo Juntas traz as múltiplas facetas das mudanças tanto no físico como na mentalidade de uma pré adolescente como Margaret: a tão esperada hora de ser definida como mulher na chegada do ciclo menstrual, o interesse pelos garotos, mudanças nas curvas e outras partes do corpo. Entretanto, o diferencial é em como o filme é rico em sutilezas e na discrição com coisas mínimas, como diálogos e planos detalhados mostrando o desenvolvimento corporal dos personagens nessa idade. E tudo isso nos remetendo a memórias da nossa própria juventude e o começo de tudo.
O título traz uma impressão de algo extremo ao religioso como produções dramatizadas erroneamente em que a criança é o personagem principal e algo precisa acontecer com ela para que seu contato com Deus seja um milagre e consequentemente a virada de chave para sua vida se tornar boa novamente. Mas essa propaganda em forma de discurso batido para implantar o cristianismo não se faz presente, o que foi uma surpresa, porque sendo um assunto sério, esse tema ser abordado com tanta leveza em um Coming of Age, que querendo ou não acaba sendo mais voltado para jovens, é muito instigante.
Sendo o amadurecimento envolvido com a religião a sua grande missão, Margaret coloca seus problemas para conversar com a sua falta de direcionamento religioso, trabalhando para encontrar a resposta para seus questionamentos, aflições e a busca de consolação para em ambas situações. Pois apesar de não acreditar e muito menos não ter escolhido uma religião como admite, ela usa o nome de "Deus" para falar consigo mesma.
Ali mesmo, falando "mentalmente" ela acaba se descobrindo e se entendendo, sem precisar ser guiada pela religião, a fé ou alguém lá em cima, apenas procurando definir seus ideais através de questionamentos e qual a opinião de si mesma (Deus) sobre tudo aquilo. Como ela mesma menciona na carta que escreveu para seu professor, não há ninguém lá em cima a não ser ela mesma.
O longa retrata todas essas complexidades da juventude e consequentemente da vida adulta com todos os sentimentos possíveis e quebras de humor feitas na hora exata e com leveza e conforto, refletindo as nuances do ser humano em meio a barreiras na construção de suas vidas e evoluções individuais. A relação familiar e social de Margaret, no geral, é quase utópica, mas mesmo assim a diretora de Quase 18 (2018) não deixa de retratar algumas verdades duras e imperfeições em meio a uma dinâmica natural e saudável, ainda mais com o amadurecimento da protagonista acontecendo ao mesmo tempo.
Há também um toque especial que o filme deu ao conectar as três gerações de mulheres - a avó, a mãe e a filha - com cada uma enfrentando seus próprios desafios nas respectivas etapas de suas vidas. Seja na juventude, na fase adulta ou na terceira idade, não largaram as mãos em nenhum momento, e se apoiaram para que, sozinhas, conseguissem encontrar seus “ritmos” por elas mesmas em suas vidas.
Contudo, tratando assuntos diversos e interligados de forma aconchegante e aproximando o espectador com o personagem, Are You There God? It’s Me, Margaret elabora o peso do amadurecimento - atendendo a expectativas a uma aparência, vestimenta e comportamento que antes nunca viam como um grande problema, além de suas mudanças hormonais e com elas os sentimentos à flor da pele e a pressão que nunca tinham sentido antes. Tudo isso chegando excessivamente rápido em suas vidas, e sem saber como lidar, elas acabam tomando decisões que não eram tão importantes para si mesmas mas sim para o seu “ideal” de aceitação.
A narrativa não finaliza com Margaret ficando bem com tudo e muito menos com arcos fechados entre seus personagens, o que é, em si, outro diferencial. Apenas sinaliza a grande chave para o amadurecimento: que tudo ficará bem, só precisamos ter paciência.