Crítica | Mais que Amigos
A tentativa de subverter a comédia romântica clássica gera bons momentos mas esbarra no mesmo problema que o protagonista tem: uma visão cínica sobre o mundo.
“Mais que Amigos” é a mais nova comédia romântica do pedaço, estruturada da mesma maneira que os clássicos dos anos 90 e começo dos anos 2000, o longa tenta reimaginar essas história com um romance entre dois homens gays. Escrito e estrelado por Billy Eichner e dirigido por Nicholas Stoller, a história de um intenso podcaster e estudioso da história LGBTQ+ em Nova Iorque que não acredita no amor trabalha com bons momentos de romance e comédia, como se espera tendo um veterano do calibre de Stoller atrás das câmeras, mas sofre ao fingir que é mais inteligente do que é e passar mais tempo alardeando para suas ironias e tiradas espertas (um paralelo dá pra ser feito com o personagem de Eichner) do que preocupado com a história, o que culmina em um filme mais longo que o necessário. Contudo, há momentos engraçados e sentimentos suficiente para relembrar a nostalgia dos clássicos do gênero.
Bobby Leiber (Eichner) é uma figura importante no meio LGBTQ+ natural da cidade de Nova Iorque, seu intenso e profundo conhecimento o colocam como uma pessoa pública e bem sucedida com um podcast de sucesso sobre o tema e membro do conselho curador de um Museu de História LGBTQ+ prestes a ser fundado. Orgulhoso de sua incapacidade de amar e se envolver emocionalmente tem sua confiança abalada ao conhecer Aaron Shepard (Luke Macfarlane), um advogado nascido em uma pequena cidade atuando na área de testamentos que possui o físico perfeito e ainda menos vontade de se envolver emocionalmente com os homens com quem tem relações. Apesar das diferenças, os dois seguem tentando vontade de se ver, enquanto Aaron se sente inseguro com a relevância e inteligência de Bobby, esse sente sempre que seu padrão físico é inadequado para o tipo de homem que Aaron normalmente se atrai.
Nicholas Stoller é um experiente diretor de comédias e romcoms trazendo em seu currículo filmes como “Ressaca de amor” e “Vizinhos”, além de ter trabalhado em diversas produções de Judd Apatow, a escolha por ele é sem dúvidas acertada para contar a história que Eichner deseja: uma comédia romântica tão nostálgica e clichê que a presença de dois homens em cena não causa nenhuma disrupção das normas que fizeram esse gênero tão famoso. Mas o roteiro faz questão em apontar muitas vezes todas as formas que esse filme reproduz as cenas tradicionais das comédias românticas, com planos, com edição, com música, diálogos e até com cenas em que filmes como “Harry e Sally” e “Mensagem para Você” são citados nominalmente. Ao apontar todas regras impostas pelo cinema para histórias de amor, “Mais que Amigos” não faz nenhum esforço para tentar quebrá-las, por vezes parece ser a intenção dos filme, por exemplo quando o protagonista fala sobre não querer reproduzir os padrões de heteronormatividade no seu museu LGBTQ+, porém apontar e rir sem alterar a estrutura não qualifica como paródia, qualifica como falta de criatividade.
Apesar disso há mais de um momento animado ou engraçado que faz a gente se conectar com as histórias dos personagens e torcer para eles ficarem juntos, apesar do protagonista ser insuportável de mais da conta, o humor é excessivamente textual e na maior parte do tempo se baseia em referências a cultura pop, com infinitos cameos de celebridades que atravancam o roteiro, nota aqui que o roteiro tem duas ótimas piadas mostrando orgias, e mais algumas com outros temas. Mas com tudo isso, talvez o ponto mais fraco seja a falta de um protagonista carismático, nem Eichner nem Macfarlane, esse em alguns momentos chega a ser mau ator, estão no ponto de suas carreiras de serem estrelas e nem tem capacidade de sustentar longos 120 minutos de cinema e talvez esse seja a única norma da comédia romântica que “Mais que Amigos” é incapaz de reproduzir. Com tudo isso, tenho certeza que o longa-metragem vai engordar catálogos de serviços de streaming e agradar o espectador que quer apenas se desligar e por alguns minutos, nesse aspecto acho que se trata de mais uma ótima obra para essa lista.