Crítica | Atômica
Em ''Mad Max: Fury Road'', Charlize Theron já havia mostrado sua imponência física e diligência ao fazer um filme de ação. O papel de Furiosa só não lhe rendeu o Oscar pelo fato de competir com a atuação de uma vida de Brie Larson, em ''Room''. Já em ''Monster'', Theron ofereceu um personagem cheio de camadas, carregando consigo um peso emocional extremo e dando um show a parte. Além de tudo, fez a voz da macaca, em ''Kubo''.
Versátil é o principal adjetivo que me vem a cabeça para falar da atriz. Em, atômica, o filme pertence a ela. A visceralidade da personagem é entretenimento puro. Lorraine Broughton desafia a tudo e a todos, sem medo, porque no final das contas, ela é a pessoa mais badass do planeta, e vai te convencer disso.
O gênero de espionagem é inegavelmente bom. Em questão de história e personagens marcantes, esse nicho de filmes nos proporcionou ''007'' e James Bond; Jason Bourne; ''Missão Impossível'' e Ethan Hunt e, mais recentemente, ''Kingsman'' e Eggsy. Cada um desses exemplos citados possuem suas próprias características, que os diferenciam um do outro, mas uma coisa em comum: Por que nunca tivemos uma mulher no polo central desses filmes, como herói principal? Isso acabou.
Pra começo de conversa, ''Atômica'' é visualmente vislumbrante. Sua fotografia transita entre o frio e a hostilidade da Guerra em tons pálidos e cinzas, e cores fortes, muitas vezes futurísticas, que combinam com a impositividade da personagem principal e que empolgam. A escolha das músicas para o filme foram feitas a dedo e são utilizadas de uma forma excepcional. Diversos sucessos dos anos 80, que crescem gradativamente conforme algum combate se torna eminente, compondo um estilo visual e sonoro original e revigorante.
Das diversas qualidades, com absoluta certeza o que mais se destaca, ao lado de Theron, é a ação do filme. David Leitch dirigiu ''John Wick'' (1 e 2), e terá ''Deadpool 2'' nas mãos, ou seja, ele sabe o que faz quando o quesito é porrada. É conhecido por construir ambientes e sequências de violência de colocar qualquer espectador desavisado na ponta da cadeira, e aqui, coreograficamente é tudo impecável. O impacto de cada movimento é sentido, e há dois momentos excepcionais, um inclusive, tão bem dirigido e editado que cortes quase passam despercebidos. É tudo tão natural e fluído que se torna uma brutalidade fácil de olhar.
Porém, fora os aspectos mais técnicos, ''Atomic Blonde'' erra ao ter que desenrolar sua história. Com um roteiro problemático, faltam conteúdo e motivações, e mesmo contando com um ótimo James McAvoy e um bom John Goodman em cenas onde a história e o ambiente deveriam ser desenvolvidos, não é como se os roteiristas se importassem em te entregar algo que esclareça algumas ações. É a boa e velha enrolação, que deixa o filme arrastado, até o momento de Charlize Theron brilhar mais uma vez em tela.
Entre erros e acertos, Atômica se afirma com um bom filme no gênero de espionagem, e afirma sua personagem, incrível, inteligente, sagaz e a melhor no que faz, sem cair em algum discurso sexista. E isso é ótimo, afinal, não há nada de anormal em Lorraine Broughton ser o espião mais ''badass'' de um universo cinematográfico. Provavelmente Charlize Theron é a pessoa mais ''badass'' do nosso de um jeito ou de outro.
7,5