Crítica | Childish Gambino - 3.15.20

Little boy, little girl
Are you scared of the world?
Is it hard to live?
Just take care of your soul

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Childish Gambino, o pseudômino do multitalentoso Donald Glover, retorna à música com seu mais novo projeto: “3.15.20”.

Após o sucesso estrondoso de seu último single, This Is America, muitos fãs começaram a se questionar quando sairia o próximo álbum de Gambino - que não tardou muito. Com um lançamento surpresa em seu site no dia 15/03, nos foi apresentado “3.15.20”. 

Sim, o nome do álbum é a sua data de lançamento e os números das músicas representam o tempo em que elas começam a tocar. Esse movimento pode ser entendido como uma maneira de fazer com que o ouvinte ouça o álbum como um todo, inteiro. As únicas músicas que tem nomes, Time e Algorhythm, também tem números em sua essência. Em seu site, as músicas ficaram disponíveis por apenas um dia, e quando não estavam mais lá, foram trocadas por um bilhete escrito por Donald chamando esse lançamento de “primeiro livro”, o que me faz acreditar em um novo lançamento em breve.

Como disse anteriormente, por conta de seus últimos lançamentos, houve uma grande expectativa pelo seu próximo projeto. Desde “Because The Internet”, com 3005, e “Awaken, My Love!”, com Redbone, Gambino sempre conseguiu se superar e nos apresentar músicas cada vez mais memoráveis, culminando com o apoteótico single This Is America. Seria possível se superar mais uma vez? Seria possível apresentar outra música tão marcante?

Não. O álbum é repleto de ótimas músicas como Time, com Ariana Grande, a rebatizada Feels Like Summer, agora 42.26, a atmosférica e instrospectiva 24.19, entretanto, não vejo nenhuma dessas no mesmo patamar das citadas no parágrafo anterior. Ao ignorar títulos de músicas, título do álbum e não ter arte de capa, talvez essa fosse a intenção.

Da parte mais musicalmente experimental do projeto, temos um som mais industrial e alternativo com Algorhythm e 32.22. Ainda assim, percebemos muitas influências de soul, funk e R&B em faixas como 12.38, 19.10 (essa com uma maravilhosa transição para 24.19). A divertidíssima 35.31 traz em sua letra um interessante contraste ao contar uma história sobre drogas e tráfico, seguida pela (praticamente) à capella 39.28 - que, ao meu ver, serve apenas como um interlude para 42.26. Finalizando o álbum, temos a minha candidata a hit do álbum 47.48 e a enérgica 53.49.

Como já dito anteriormente por Gambino, quando perguntado pelas referências e significados em This Is America, ele quer que nós tenhamos nossa própria interpretação da sua obra, e como melhor apresentar isso senão com um quadro em branco para nós mesmo pintarmos? Sinto que para esse álbum, cabe a nós como ouvintes darmos um significado para ele.

O meu significado é que “3.15.20” é um álbum minimalista e experimental, com uma sonoridade não diferente, mas alternativa e que tangencia a que estava sendo construida por Childish Gambino no decorrer de sua carreira. Por muitas vezes a mixagem e a produção parecem desconexas e não há muita coesão entre as faixas, o que pode fazer o álbum um pouco confuso de se ouvir. A quebra da expectativa em relação aos seus trabalhos anteriores acaba sendo frustrante, porém, o álbum tem boas músicas e vale a pena ser ouvido. Agora que o público está alinhado com o que foi apresentado, espero que no próximo “livro” Gambino consiga nos surpreender positivamente com seu talento.


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