Crítica | O Retorno de Mary Poppins

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Mary Poppins retorna a um velho cinema.

Nos anos 30, o estúdio de animação Walt Disney teve muito destaque contando histórias como “os três porquinhos” (1933), “a lebre e a tartaruga” (1935), “patinho feio” (1939) e vários outros clássicos da literatura infantil em curtas de animação colorida agrupados nas “Sinfonias Tolas” (Silly Symphonies; 1929–39). Depois de vencer 5 óscares em 5 edições, Walt Disney produziu o primeiro longa-metragem de animação da história do cinema, baseado em um conto dos irmãos Grimm, “A Branca de Neve e os Sete anões” (1937) que é até hoje um dos maiores sucessos de público de todos os tempos e inaugura décadas de muito sucesso dos estúdios Disney contando clássicos da literatura infantil e infanto-juvenil em cinema live-action e animação. Vários clássicos, bilheterias intermináveis e um verdadeiro império do entretenimento foram construídos sobre a marca do seu fundador. Em 2010, aproveitando as tecnologias novas de computação gráfica, a Disney recontou a história da “Alice no País das Maravilhas” - originalmente em animação - foi feita em live-action com grandiosos efeitos especiais e bateu a marca de 1 bilhão em bilheteria, além disso inaugurou uma nova ideia pros estúdios Disney: requentar as histórias antigas com um novo (nem tanto assim) visual e uso exagerado de novas tecnologias disponíveis.

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“O Retorno de Mary Poppins” é uma sequência lançada 54 anos depois do seu original, “Mary Poppins” (1964), um clássico da Disney da era de ouro dos musicais em hollywood, conta a história de uma babá mágica que chega para resolver os problemas de um banqueiro com seus filhos, misturando animação e live-action, muita dança, música e magia típicos da época. Sua sequência tem uma história parecida com paralelos assumidos, uma vez que Mary Poppins agora vem para lidar com os filhos do bancário Michael Banks (criança no filme original), pintor que tem o trabalho de meio turno no banco que seu pai era sócio. Ao invés de Julie Andrews e Dick van Dyke nessa edição tivemos Emily Blunt (Into the Woods; Lugar Silencioso) e Lin Manuel Miranda (seu primeiro papel de destaque no cinema, apesar de já ter composto a trilha de Moana e ser autor, diretor e ter estrelado no aclamado musical Hamilton, na Broadway), Blunt interpretando a própria Mary Poppins enquanto Miranda faz o sobrinho de Bert, limpador de chaminés no filme original, interpretado por Van Dyke. Em todos aspectos, é praticamente a mesma história do clássico de 1964.

Dirigido por Rob Marshall (Chicago), Mary Poppins homenageia os clássicos musicais dos anos 60 ao trazer cenas de coreografia filmadas em assumidos estúdios com muitos passistas, filmados em plano aberto estabelecendo o tom divertido. É um filme bem-humorado onde realidade e fantasia parecem se misturar o tempo todo e o lúdico ganha vida na tela, muito semelhante ao seu predecessor. Aliás, o maior defeito de Retorno de Mary Poppins é ser semelhante demais em andamento e estética ao filme original, o que não necessariamente é um problema já que “Mary Poppins” de 1964 é um excelente filme. Em tempos de “Cinderela”, “A Bela e a Fera”, “Mogli” etc seria uma injustiça criticar “Retorno de Mary Poppins” pela falta de criatividade. Porque de fato é um filme divertido, bem filmado e com qualidades técnicas, mesmo que tenha problemas de roteiro, que às vezes parece não entender que história quer nos contar: a de Michael Banks ou a de seus filhos? outro defeito bastante relevante é as músicas serem fracas e pouco memoráveis. Um detalhe que merece ser exaltado é que o filme não foi lançado em 3D, sendo o primeiro filme blockbuster sem 3D nos últimos 300 anos (pelo menos é isso que meus olhos sentem).

A única questão que deixo: se as cabeças de hollywood estão preferindo requentar velhas histórias, como serão vistas as ótimas ideias que se tem pelo mundo? será que as pessoas vão no cinema só assistir histórias que elas já conhecem por preguiça ou porque é a única opção? qual o papel da indústria cultural na disseminação e produção da arte?

6,5

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*Esse texto foi publicado originalmente no dia 17 de Janeiro de 2019, com algumas alterações, no Medium.

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