Crítica | Eusexua - FKA Twigs

Cartas de amor geralmente possuem um destino final e um objetivo muito bem delineado. Porém seu conteúdo naturalmente é dotado de uma embriaguez apaixonada essencial à coisa. São inundadas de inspiração e espontâneas de nascença. É um ato pensado e impensado ao mesmo tempo, e a carta de Twigs à Música Dance explode em coragem - como acredito que só ela poderia.

Desde seus primeiros momentos aponta sem um pingo de vergonha para Ray of Light de Madonna e à fase inicial da carreira de Bjork (duas das artistas mais icônicas do gênero em questão) como modelos, dizendo a eles: quero agradecer a maneira que me fizeram sentir e o impacto que causaram, mas quero passar isso pra frente do meu próprio jeito.

O experimentalismo de Twigs desafia a concepção contemporânea do que significa experimentar na música.

Logicamente, a produção se encontra anos luz a frente do que qualquer outra artista dentro do Mainstream poderia pensar e ousar em fazer. É mais pulsante e mais pujante, mais angelical e igualmente mais sombrio do que basicamente qualquer outra experiência Pop pode nos proporcionar. Possui uma gama gigantesca de elementos que saem das sombras uns dos outros a cada reouvida. Porém, é a inserção de letras emocionalmente carregadas, inseguras e auto condenatórias em meio aos fogos de artifícios instrumentais, colocando em voga justamente essa concepção do ambiente de uma noite que afaga a dor emocional com um impulso dopado de suas batidas, que subverte completamente a ideia inicial do que estar numa festa do gênero deveria ser.

My body wants to be touched in the deepest and darkest places; I want to be loved” precedendo o dubstep inesperado da Outro em Sticky (que conta com um uso excepcional do sample de Avril 14th de Aphex Twin). “I’m tired of messing up my life with overcomplicated moments and Sticky situations” aponta para o problema e usa-o como principal fonte de energia. Quer exorcizá-lo, não escondê-lo, sendo o maior trunfo do disco e predominantemente seu modus operandi.

EUSEXUA não é apenas sobre o estado pré orgásmico de clareza absoluta, tampouco sobre a espontaneidade catártica do ponto mais alto do prazer físico. É também sobre o ambiente opaco, inundado de desejo e carregado de segundas intenções e inseguranças onde tudo começa e termina - e justamente sobre esse ciclo quase inescapável de sedução.

[Verse 2]
It’s true, I’m just this way for you
I bend more than what I thought was possible
Me, in shapes to make you pleased
It eases up my mind
And helps me leave my power behind

[Pre-Chorus]
Plеase don’t call my name
When I submit to you this way (This way)
— Striptease

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