Crítica | Mac Miller - Balloonerism

Gravado em 2014 e lançado oficialmente em janeiro de 2025, Balloonerism me faz questionar quantos outros diamantes brutos não estão parados em um HD externo na casa dos familiares de Mac Miller.


A carreira de Mac Miller sempre foi muito fascinante pra mim. Sua evolução como artista e sua mudança como pessoa estão retratadas em sua obra de uma maneira muito clara, e seria impossível falar sobre Balloonerism sem contextualizar um pouco do que se passava na cabeça dele no período da gravação do álbum. 

Natural de St. Pittsburgh, na Pensilvânia, Malcolm McCormick surgiu para o mundo no início da década de 2010, ganhando destaque com suas mixtapes K.I.D.S e Best Day Ever. Na época, com 19 anos, Mac ganhava o público com uma abordagem mais leve, focada na sua vivência como um jovem de classe média do subúrbio norte-americano, preocupado exclusivamente em curtir a vida - músicas como Spins, Kool aid and Frozen Pizzas, Nikes in my Feet e Donald Trump, sua primeira canção ao alcançar o US Billboard Hot 100, são exemplos claros disso -. Seu primeiro álbum, Blue Slide Park (2011), seguiu com a mesma pegada. 

A guinada de Mac para um som mais maduro aconteceu em 2012, com o lançamento da mixtape Macadelic, seguido de seu segundo álbum, Watching Movies With The Sound Off, lançado em 2013. Nestes projetos, o rapper passou a experimentar elementos mais psicodélicos e beats mais melancólicos, sendo nesse período da vida que o artista começou a retratar assuntos mais pessoais em sua composições, como seu vício em drogas e problemas de saúde mental, tudo isso, porém, sem perder seu humor ácido, muito presente em seus outros trabalhos. 

Em 2014, a mixtape Faces foi lançada, o que concretizou ainda mais essa nova face de Mac Miller: mais maduro e experiente na indústria, aquele jovem divertido que cantava sobre as festas que fazia no ensino médio havia se tornado um adulto depressivo, com dúvidas sobre seu futuro e escolhas de vida. Surgia aí um momento musical mais experimental, com tons melancólicos e autodepreciativos.  

Esse lado mais depressivo de Mac foi deixado um pouco de lado nos seus próximos projetos, GO:OD AM (2015) e The Divine Feminine (2016), para voltar em Swimming (2018), último álbum antes de sua trágica morte. Porém, foi entre o lançamento de Faces e GO:OD AM que Malcolm gravou Balloonerism, álbum ainda muito carregado dos elementos melancólicos do artista, que, retratados de uma maneira mais amena, possui faixas que podem ser confundidas com músicas felizes pelo ouvinte menos atencioso.

Nesse sentido, o álbum chama muito a atenção por sua produção: orquestrada oficialmente por Larry Fisherman (um dos pseudônimos de Mac), ele é, em sua grande parte, composto por teclado, bateria e baixo - gravados por ninguém mais ninguém menos que Thundercat -, o que traz para o disco esse senso de simplicidade e leveza, que segue presente até mesmo nos momentos mais sombrios da obra. 

Essa dualidade entre a melancolia e melodias mais animadas está presente em músicas como Funny Papers, onde Mac supostamente analisa as notícias do jornal e faz um paralelo com suas próprias emoções, e 5 Dollar Pony Rides, onde ele reflete sobre um antigo relacionamento em uma mistura de frustração e saudade, que termina com o autor suplicando, em tom de desespero, “Can I give you what you want? Can I give you what you need?/Posso te dar o que você quer? Posso te dar o que você precisa?”.

Isso, porém, não quer dizer que o rapper não seja claro sobre seus sentimentos em certos momentos, como em Do You Have a Destination, em que ele diz “I gave my life to this shit, already killed myself/Dei a vida nessa merda, acabei me matando”, ou em Shangri-la, em que Mac afirma “The weather's nice today, what a perfect day to die/ O tempo está bom hoje, um dia perfeito para morrer”.


Fica claro que Balloonerism seria um álbum muito pessoal para Mac Miller, portanto, é possível que ele seja mais palpável para os fãs mais aficionados do rapper. Suas faixas simples e, por vezes, lentas, podem acabar entediando o ouvinte que não tem um apego emocional pelo artista.  Porém, indico para qualquer amante de rap, pois é uma obra coesa, profunda e experimental, que retrata com perfeição o incrível talento de Malcolm McCormick e, como sempre, me deixa triste ao lembrar que, em um futuro próximo, nunca mais ouviremos nada novo dele.

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