Skank | Turnê de Despedida - Porto Alegre

Desde o público aglomerado nas banquinhas de cerveja artesanal na frente do nosso lendário Araújo Vianna, passando pelas mais de quatro mil pessoas que encheram o local de forma que eu nunca tinha visto antes, até as reações mais viscerais vindo das senhoras, que não paravam de pular e dançar, dos homens de meia idade, que eu não vi tocar no celular nem por um segundo. O clima era de copa do mundo, clima de final, depois de mais de dois anos, finalmente era chegada a hora da despedida da banda dos palcos gaúchos. 

A lista de músicas escolhida pela banda antes da entrada no palco contava com pérolas do Reggae dos anos 70, e algumas releituras de músicas populares em versão Dub. Espelhando de forma quase irônica o início de carreira da banda, que regravava e interpolava hits com influência jamaicana. 

A banda mineira ganharia mais um integrante aquela noite, a reação do público foi imediata aos primeiros acordes de violão que indicavam o início da primeira canção da noite “Dois Rios”, a escolha de começar com uma balada (não qualquer uma, talvez uma das baladas mais famosas da banda), indicava a calmaria antes da tempestade. Samuel Rosa trocava de instrumentos com a precisão e destreza com que uma diva pop troca de figurino entre uma música e outra, da segunda música em diante, Samuel se encontrou com sua famosa Les Paul dourada e não desgrudou por um bom tempo.

Hit atrás de hit, as mais de 4 mil pessoas deliravam. A prova que uma carreira tão longa e bem-sucedida não tem público-alvo, senhoras, jovens e crianças correspondiam a cada acorde, a cada nota do naipe de sopros. Ainda no primeiro terço do show, depois de um medley em que juntavam o hit “Pacato Cidadão” com “Let ‘Em In”, canção de Paul McCartney e os Wings, Samuel compartilhou a história da primeira vez em que tocaram na capital gaúcha, há quase 30 anos atrás, no bar Opinião, brincou com a diferença discrepante de tamanho das duas casas de show, e com o porte da banda, que foi de uma banda mineira com influências de Dub jamaicano para a maior banda de rock da história do país. 

Depois de 14 músicas, “Te Ver” foi o primeiro momento em que o clima de balada se instaurou como na primeira música. A banda introduziu a música ao público como o primeiro grande sucesso. Celulares ao alto e um coro uníssono, a ovação na linha “É como não morrer de raiva com a política”. 

A trinca “Três lados”, “Vou deixar” e “Garota nacional” foram o ápice anímico do concerto. Era o gol aos 45 do segundo tempo, a confirmação do clima de copa do mundo; o auditório Araújo Vianna vivo como eu nunca tinha visto antes. Depois das baladas “Sutilmente” e a mais atual “Algo parecido”, a versão atemporal de “Vamos fugir” do mestre Gil, fechou o setlist combinado. 

Embalado pelo grito da plateia, rapidamente a banda volta para tocar “Resposta”, sucesso do álbum Siderado, de 1998. E para o meu deleite, nos momentos finais de show, Samuel comunica: “Faltou uma do primeiro álbum, né”, era tudo o que eu precisava ouvir. Meu sorriso abriu imediatamente com os primeiros compassos de “Tanto” interpolação de “I Want You”, de Bob Dylan.

Enquanto a banda encerrava de vez o bis com “Tão seu”, eu pensava no cenário atual da música brasileira. Por mais que a futuro pareça sim animador, com bandas como Terno Rei e Jovem Dionísio puxando a fila, e o presente seja sim empolgante, com o sucesso recorrente dos novos projetos da Fresno. A impressão é que nunca mais, ou ao menos não num futuro próximo, tenhamos um fenômeno tão exitoso quanto a banda mineira. Que prometeu ao público voltar pelo menos mais uma vez, e deixa claro que a turnê de despedida ainda vai se estender pelos próximos anos. 

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