Crítica | Eternos

A narrativa formuleisca da Marvel combinada com a escrita e direção de Chloé Zhao resulta em um filme ambicioso, que traz uma diversidade jamais vista nos padrões da empresa mas que se perde em alguns excessos.

“Eternos” não nos apresenta a um novo herói como “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, mas nos traz dez novos personagens para o universo cinematográfico da Marvel. Os Eternos são seres imortais que protegem a Terra nos últimos 7 mil anos de criaturas bestiais conhecidas como “desviantes”. A trama, então, abre janelas em diversos momentos-chaves da história terrestre e as intercala com cenas no tempo presente.

Por ter um elenco principal muito inflado, somos apresentados aos heróis quase que individualmente. A história inicia-se com Sirse (Gemma Chan), uma curadora de um museu em Londres. Sirse poderia facilmente ser a protagonista, afinal é ela quem herda a liderança do grupo de Ajak (Salma Hayek), que esconde o segredo portas do objetivo da missão de proteção à Terra. No entanto, como a própria história reforça, Ikaris (Richard Madden), o interesse amoroso de Sirse e o mais poderoso entre eles, muitas vezes rouba o holofote para si.

Além do casal, há também Kingo (Kumail Nanjiani), um astro do cinema Bollywoodiano, Gilgamesh (Don Lee) e Thena (Angelina Jolie), que vivem isolados em um deserto australiano devido a uma condição mental que a guerreira possui, Makkari (Lauren Ridloff) que é surda e possui super velocidade, Phastos (Brian Tyree Henry), que desistiu da humanidade após usarem a tecnologia dele em Hiroshima, Sprite (Lia McHugh), uma pré-adolescente com o poder de criar ilusões mas incapaz de crescer e Druig (Barry Keoghan), que se distanciou do grupo por discordâncias em relação às interações com a humanidade. 

Se a quantidade grande de personagens pode ser uma desvantagem, a diversidade entre eles certamente é uma vantagem. Dos 10 Eternos, 3 são asiáticos, 2 são negros, uma é latina, um é gay, uma é surda e uma é andrógina. É uma diversidade certamente nunca vista antes em nenhum outro filme da franquia. 

Outro ponto que diferencia a obra de seus filmes-irmãos também é a exploração do afeto em cena. Pela primeira vez na história do MCU, vemos uma cena de sexo e um beijo entre dois homens. Zhao também trás questões filosóficas e morais como conflitos centrais, fazendo com que aliados e inimigos sejam decididos por suas crenças éticas ao invés de por seus afetos. É uma abordagem que não víamos desde o lançamento de Pantera Negra.

Mas ao contrário dos guerreiros de Wakanda, a força por trás da missão dos Eternos é quase efêmera. O filme só funciona por ser parte de um universo maior, pois por si só, ele não se sustentaria. Ou, pelo menos, não se sustentaria para o público Marvel pois os aspectos mais interessantes são certamente a construção da mitologia por trás de Arishem e dos seres Celestiais e os conflitos internos dos personagens. Para o fã de cenas de ação, o filme muito possivelmente não valerá a ida ao cinema.

“Eternos” talvez tenha uma das histórias mais legais do MCU, mas certamente é o pior trabalho de Chloé Zhao até o momento.

6

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