Félix Burck - Show de Lançamento / outrahorarec

Gigante pela própria natureza, Félix Burck encarna no palco, através de retomadas e propostas, a própria subjetividade e o espírito coletivo. 


A apresentação de estreia do cantor e compositor porto-alegrense de 21 anos cantou-se atendendo o público com clássicos da música brasileira e três faixas autorais em um setlist de mais de vinte músicas. Apoiado pelo novo selo musical Outra Hora Rec, recém-criado e já contando com nomes interessantes ao seu lado como Bella e o Olmo da Bruxa, nobandnobrand e Nick Mendes, um dos idealizadores da marca, Félix tinha o clima perfeito para uma grande noite e tornou-se seu principal astro.

Passando pelos anos 70 reviveu a bossa-nova com a guitarra e voz estridentes. Quando escolhia o violão por companhia também não pecava. Entre carícias e assaltos dominou o espaço do Bar Galpão 1961, na Zona Sul de Porto Alegre, como um veterano.

Entre caras e bocas comprovou que a bossa-nova não morreu. Tão menos a MPB. Com músicas consagradas como Sujeito de Sorte (1976) do falecido Belchior, deus o tenha, Sozinho (1998) do mestre Caetano, e Onde Anda Você (1975), de Vinícius de Moraes, Félix Burck conquista o público e o aproxima do espetáculo. Mas, impressionante mesmo são suas performances mais ousadas. Naturalmente, se entorpece de sons ao tocar Jorge Ben Jor, escolhendo como estimulantes as clássicas Oba, lá vem ela (1970) e Balança pema (1963). em Let’s Play That (1983), incorpora Jards Macalé em densidade e abstração, celebrando o espírito da música boêmia dos cantores cariocas.

Retomando a cultura de bar, Félix ergue a aura do ambiente com sua habilidade e repertório, trazendo o público sempre junto a si, convidando ao cantar e dialogar. Félix celebra o Brasil que já imaginamos ser, que hoje anda envergonhado escondido, entre sussurros e repressões, harmonicamente berrando que a música brasileira e Burck vieram para ficar.

Apossando-se do célebre passado, Félix começa a introduzir sua própria proposta musical ao, antes de lançar suas próprias faixas, decidir exibir-se à guitarra com os contemporâneos goianienses da Boogarins. Chegando finalmente ao grande sucesso da noite, a faixa Terraço, se destaca pelo sentimentalismo concreto e contempla a cultura gaúcha perpetuada por bandas como Fresno, sem cair em clichês que podem ser comuns a artistas em projeção.

Nas outras duas faixas, Félix resgata em voz e violão o tom do “poetinha” mais idolatrado do Brasil, Vinicius de Moraes. Homenageando, mas também apresentando à bossa-nova certa irreverência, trazida pelas influências roqueiras na caminhada do compositor, faixas tão marcantes que poderiam ser ilustrações gravadas na mente dos ouvintes.

Entre os olhos do público só cabia um feixe de luz, direcionado a Félix Burck. E, em busca de mais brilho pra já tão iluminada consciência artística, teremos o prazer de receber o primeiro EP do artista no segundo semestre de 2022. Siga atento no Spotify e nas outras plataformas de streaming.

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