Crítica | Em Guerra

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Se seu último filme “A Lei do Mercado” era sobre como o capital usa o desemprego e a necessidade da classe trabalhadora de pagar por todos aspectos da sua vida para tirar a dignidade dos trabalhadores. O diretor Stéphane Brizé retorna ao tema da precarização do trabalho no Século 21 sob forte discussão na disputa Capital x Trabalho e suas novas formas.

“Em Guerra” mostra alternativas de resistência e escancara o conflito entre o trabalhador e o mercado financeiro, especialmente em momentos de crise.

A narrativa é iniciada a partir de entradas ao vivo de telejornais enquanto 1100 trabalhadores de uma fábrica de carros declaram greve contra o anúncio do fechamento da fábrica que trabalham. Isso resultará na liquidação dos seus postos de trabalho. Um deles fala à imprensa que esse anúncio vem dois anos depois de uma negociação coletiva em que os trabalhadores se comprometeram a abrir mão de benefícios e aumentar a jornada para que tivessem cinco anos de segurança sem demissões. O filme se passa quase todo em piquetes, reuniões sindicais e mesas de negociação coletiva entre representantes da empresa de carros e líderes dos grevistas, enquanto as disputas sobre fechamento ou não avançam e retrocedem.

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Somos oferecidos à perspectiva de Laurent Amédéo (Vincent Lindon), líder de um dos sindicatos que representa os grevistas que resiste negociar qualquer coisa que não seja a manutenção do funcionamento da fábrica. As disputas com dirigentes industriais vão evoluindo de representantes locais até o CEO da empresa, mas em todas mesas são repetidas as palavras do novo dicionário da economia “competitividade”, “rentabilidade” etc. Uma vez que a justificativa para o encerramento das atividades daquela fábrica é a falta de concorrência na região que aumenta os preços de produção. O diretor escolhe efetivamente dar agência ao espectador, há muitas cenas chave filmadas com câmeras de mão que aumentam a tensão dos conflitos que se passam em tela, como em um documentário. 

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Quase todos segundos das suas duas horas são tensos e irritantes. A conivência da mídia e do estado com os empresários, as frustradas tentativas que os grevistas fazem de chamar atenção para sua causa e especialmente seu desespero ao não conseguir causam agonia. A pegada mais realista da narrativa assim como a agonia só são possíveis porque aquilo que aparece em “Em Guerra” é apenas um retrato da maneira com que o neoliberalismo (especialmente nos últimos 20 anos) matou qualquer possibilidade de coexistência com a classe trabalhadora no Ocidente e na América Latina. E a constatação que nem toda persistência de Laurent e seus camaradas são capazes de conter a força imparável e destruidora do capital de dar fim a sua capacidade de gerar renda para a própria existência. 

Por fim, é importante falar que esse filme foi lançado em Junho de 2018 e parece que desde então as populações de Europa e Américas parecem ter começado a dar respostas e peitar o neoliberalismo de uma vez por todas. Que seja possível as existências de novas formas de resistência e de maior capacidade de criação de alternativas ao sistema capitalista. Senão, assim como os trabalhadores de “Em Guerra”, passaremos o resto das nossas vidas dependendo do lucro de capitalistas e não da nossa própria capacidade de trabalhar e gerar renda para sobreviver.

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