Crítica | A Cidade dos Piratas

MV5BYjAwYzZlZDItMzVlOC00ZTQwLTgyOTMtOTdmYzQ4MmM1NWUwXkEyXkFqcGdeQXVyNjYxNzY5MjE@._V1_.jpg

A Cidade dos Piratas é livremente baseado na obra de Laerte, segundo os próprios créditos. O filme seria originalmente a história dos Piratas do Tietê, um dos principais títulos da cartunista, mas tanto o diretor Otto Guerra quanto a autora trilharam caminhos nos anos da produção que exigiram que esse filme fosse diferente. Por isso, A Cidade dos Piratas usa seu tempo de tela para mais do que contar histórias cartunescas, mas para trazer seu espectador para dentro da produtora de Otto e acompanhar seus dilemas enquanto realizava o filme e, também, relaciona os debates da jornada de seus personagens com a vida de sua criadora carregando para tela momentos de Laerte (especialmente na TV) falando sobre sua condição de se descobrir transexual aos 50 anos.

cidadedospiratas.jpg

O filme acabou sendo uma espécie de experimento, misturando a criação dos autores com as histórias dos personagens. Para debater as questões sobre gênero, transexualidade e suas implicações políticas são trazidos personagens mais contemporâneos da cartunista que abordam esses temas como o Minotauro e o político conservador Azevedo (Marco Ricca) e Ivan (Matheus Nachtergaele) um homem que se esconde da sua esposa para sair travestido na rua e, em alguns trechos, até a Muriel, famosa personagem de Laerte. Essas personagens vão se misturando e agregando ao filme o poder dos seus debates conforme as tramas de cada um vão ganhando sentido entre recortes de tirinhas, entrevistas da Laerte e análises do diretor sobre seu próprio filme. Dessa forma, o filme funciona e prende o espectador na expectativa da continuação de cada história e dos pontos de contato entre elas.

A Cidade dos Piratas vem a calhar no momento político brasileiro pois as suas histórias e personagens debatem gênero de uma maneira real e saudável, fugindo de tabus e estereótipos e aproveitando as ferramentas que o desenho animado proporciona para explorar aspectos lúdicos da mente, como o depósito de ódio que Azevedo mantém para se controlar. Em diversos momentos coloca o pensamento conservador que tomou conta do Brasil em 2018 em foco brincando e também questionando da onde vem o medo de debater gênero e sexualidade que a direita tanto expõe. Sem dúvida Laerte é um símbolo e seus personagens dialogam brilhantemente com nossas ansiedades e sentimentos mais diversos em relação as mudanças na nossa sociedade e a maneira como nos relacionamos com nós mesmos e A Cidade dos Piratas faz justiça na adaptação da arte de Laerte para as telas captando sua potências e suas mensagens.

cidadedospiratas2.jpg

6.5

Anterior
Anterior

Crítica | Em Guerra

Próximo
Próximo

Crítica | A Bruxa de Blair (1999)