Crítica | Homem-Aranha 2
O que faz de alguém um super herói?
O que Sam Raimi conseguiu com o primeiro filme do Homem Aranha, em 2002, foi estabelecer não só uma excelente história de origem para um dos heróis mais populares do planeta, mas deixar claro o porquê de gostarmos tanto do amigão da vizinhança. Ele, por trás de todos os poderes, é alguém como nós, que enfrenta os mesmos problemas, e tem que aprender a crescer não apenas como herói, mas como pessoa.
E o que faz um bom filme de super herói?
Diversas coisas. Mas para a continuação de um bom primeiro filme, se espera que ela faça todas elas, mas ainda melhor.
"Homem-Aranha 2", em uma época maravilhosa onde subtítulos não eram regra, traz Peter Parker agora na universidade, enquanto tem dificuldades para equilibrar sua vida pessoal e seu papel como Homem-Aranha; e esse é o principal ponto do filme.
Uma guerra moral se instala em sua cabeça, até onde ele está disposto a sacrificar sua própria vida para ajudar aos outros? Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. E o incrível é como todas suas relações e interações com os outros personagens são em prol de trabalhar essa dualidade. Mary Jane é a principal causa de ele largar seu alter ego, mas também de retornar a ele. Sua relação com Harry está claramente instável, mas isso não é o suficiente para ele contar a verdade sobre seu pai. Quando ele conta a verdade à tia May é agoniante, é possível ver a dor nos olhos dela, graças à excelente interpretação de Rosemary Harris.
A evolução dele e dos outros personagens principais é notável justamente por conta desse centro, um tanto mais dramático que no primeiro filme. Tobey Maguire já conhece perfeitamente seu personagem e em momento algum parece que poderíamos estar vendo outro ator interpretá-lo. Ele evoluiu como ator também, e sua química com a Mary Jane de Kristen Dunst está mais agridoce, mas mais intensa e real. Harry, interpretado por James Franco, começa lentamente a seguir os passos de seu pai, até tomando um pouco de sua personalidade. Raimi consegue estabelecer rapidamente o tom da continuação, e fazê-la evoluir para funcionar por contra própria.
Tudo é orquestrado com naturalidade, com cada sub trama se entrelaçando em favor do andamento da história. É um filme de super herói, então diversas coincidências envolvendo o roteiro são esperadas, mas a forma como elas são trabalhadas são o que fazem tudo aqui suceder tão bem. O doutor Connors está ali, a loucura de Harry começa a aparecer, o próprio Doutor Octopus é introduzido como um mentor a primeira vista. Sabemos o destino de cada um deles por conta dos quadrinhos, mas o importante aqui é seu desenvolvimento.
As cenas de ação são espetaculares, e a trilha sonora de Danny Elfman valoriza cada momento, desde os mais sutis aos mais grandiosos. Mesmo com forte utilização dos efeitos, que são ótimos para época, é possível ver a fisicalidade de Maguire (ou de seus dublês) em diversas cenas, com destaque para quando a fantasia, ainda mais realista, é mostrada de perto. Muitas vezes aqui o vemos sem a máscara também, como na excepcional cena do trem, até hoje uma das melhores do gênero. No confronto derradeiro contra o Doutor Octopus, sabemos que ele vai vencer, mas a boa construção do vilão e a excelente interpretação de Alfred Molina elevam o nível do ato final.
E é claro, são as pequenas coisas que fizeram esses dois filmes tão especiais. Logo na primeira cena vemos Peter Parker andando em sua motoneta pela cidade correndo para entregar suas pizzas na hora, enquanto ele tem de parar no meio do caminho para fazer coisas de Homem-Aranha. Um grande herói não age apenas quando ele é extremamente necessário, um bom herói age sempre que pode, e esses dois primeiros filmes fazem questão de mostrar isso.
"Homem-Aranha 2" é um dos melhores filmes de super herói já feitos, e que melhora praticamente tudo que seu antecessor havia feito bem. É engraçado, triste, levanta questões importantes acerca da condição humana e não falha em mostrar seu herói da melhor forma de todas. Não importa quantos filmes façam sobre ele, vai ser difícil derrubar este aqui.