Fresno - Turnê Vou Ter que Me Virar 23/04
A primeira vez que eu ouvi Fresno eu devia ter alguma idade entre 8 e 10 anos.
A música era “Onde Está”, do álbum “O Rio, A Cidade, A Árvore”, o segundo da banda, lançado em 2004. Revisitando a música hoje, eu ainda sei cada palavra e cada entonação de cada instrumento. Deve ter sido uma das primeiras músicas de emocore que eu ouvi na vida, o que é um acontecimento muito grande, visto que o gênero se tornaria parte importante da minha vida e de familiares anos depois.
De lá pra cá, é chover no molhado falar que muita coisa mudou, é de notório saber a estrada da banda. Evoluíram como instrumentistas, compositores, as produções de 4 instrumentos deram lugar a produções que eu não consigo nem imaginar a dor de cabeça do engenheiro de mixagem, de tantas faixas. Lucas Silveira se transformou numa das figuras mais icônicas e prestigiadas no mercado musical.
Hoje em dia nada disso é surpresa, mas se me falassem isso há 10 anos atrás, no ano de lançamento do primeiro LP depois do fim de contrato com a Universal (o disco Infinito, os primeiros passos, os primeiros esboços do que a banda se tornaria), eu francamente, não esperaria que a banda fosse virar esse nome conhecido e respeitado por virtualmente todos, que nós conhecemos hoje em dia.
Assim como futebol no brasil e religião em grande parte do mundo. Aqui em Porto Alegre, Fresno não se discute, e ponto final. É patrimônio irretocável e intrínseco da cidade, não se odeia Fresno - ninguém odeia - ou se ama, ou se respeita. E é assim que funciona aqui no sul.
O auditório Araújo Vianna, como de praxe nos últimos meses de retomada dos eventos, esteve mais uma vez lotado, completamente empacotado com jovens e adultos cantando as mesmas canções, e reagindo as mesmas palavras, com certeza de maneiras completamente distintas.
Assim como era de se esperar de um show tão grande e esperado como o primeiro show da turnê Vou Ter Que Me Virar, o setlist foi centrado no mais novo lançamento, as duas primeiras músicas do disco, abriram também a tão esperada turnê.
Lucas estava mais a vontade do que nunca, se sentindo completamente em casa, com um discurso que beira o bairrismo. Fazendo questão de relembrar, de canção em canção, de onde a banda veio, e qual à proporção que a banda tomou. Uma espécie de retrospectiva para os fãs de 30 e poucos que eram a maioria, mas simultaneamente um lembrete, para os fãs mais jovens, que também eram muitos.
“Vamo canta seu bando de emo velho!”, gritou Lucas em Quebre as Correntes, enquanto (e eu não estou inventando isso), cenas do anime Naruto passavam no telão, uma referência um tanto especifica para os fãs de longa data. Os momentos de grande nostalgia alteravam com momentos sublimes de maturidade, protestos políticos e canções intimas.
No início da segunda metade do concerto, a banda foi tirar uns minutos de descanso enquanto Lucas fazia uma espécie de set intimista, onde estreou a velha conhecida 6h34, agora como música da banda Fresno. Eu sou a maré viva também ganhou uma nova versão, a plateia fez questão de ajudar a banda nesse momento tão deliciado, a música foi dedicada ao falecimento de um amigo da banda, que havia ocorrido no mesmo dia. Não havia uma pálpebra seca no recinto, isso eu posso garantir.
O conflito geracional na plateia ficou apenas na teoria, músicas novas e clássicos alternaram nas últimas músicas do set, teve Fresno para todas as gerações, todos os gostos, todos os gêneros. Só não teve para quem é amigo da intolerância e inimigo da democracia e do amor, a banda deixou mais que claro que não há lugar para esses.