Crítica | American Gods (1ª Temporada)
Baseado no livro homônimo de Neil Gaiman, “American Gods” traz uma mistura inusitada e criativa das mitologias antigas e modernas.
Acompanhamos Shadow Moon (Ricky Whittle) em uma jornada do herói caótica, porém muito bem construída. Essas características permanecem inerentes a cada episódio, há uma confusão clara para o espectador, é difícil de compreender, a princípio, o significado de cada cena da série. Contudo a trama é tão atrativa e envolvente que nos sentimos na pele do protagonista: perdidos e incrédulos com as imagens diante dos nossos olhos.
A alta qualidade fotográfica é certamente um dos destaques. A trilha sonora também é certeira e contribui bastante para o aumento da dramaticidade da história. Da abertura aos momentos de ação, existe uma beleza de tirar o fôlego e uma delicadeza capaz de tornar chacinas em algo poético.
A nudez presente nas diversas cenas de sexo não força uma sensualidade vulgar e desnecessária. Pelo contrário, os enquadramentos e efeitos especiais auxiliam a criar uma naturalidade fantasiosa e orgânica.
A temporada tem um desenrolar tranquilo e intenso, como uma calmaria antes de uma tempestade devastadora. Com o passar dos episódios, vemos a realidade e as certezas de Shadow desmoronando e se reconstruindo de uma maneira mitológica.
Somos apresentados aos deuses, novos e antigos, que caminham entre nós enquanto os cultuamos. São mostradas também as nuances das crenças modernas e há críticas perspicazes àquilo que o ser humano contemporâneo transformou em sagrado.
Em contrapartida, vemos também as crenças de povos ancestrais que foram vendidos, mortos e tiveram suas identidades e culturas roubadas de si. São criados paralelos mostrando como a sociedade atual é um reflexo perfeito das violências cometidas contra esses povos. O season finale toca de forma audaciosa nesse ponto, criticando o cristianismo e a transformação de datas pagãs em datas cristãs.