Kanye West é o Maior Artista do Século 21

Kanye west maior artista

Lembro como se fosse hoje como começou minha relação com o artista ainda conhecido como Kanye West.

Um jovem de 14 anos meio confuso com o que a tal Good Music Fridays significava, que não havia gostado de - vejam só - Monster e Power, mas que lembra bem da primeira vez que ouviu Runaway - uma versão encurtada, com vocais afetados e que não existe mais no YouTube. Mas foi em 2011, quando voltei de uma viagem que, por que não, mudou o modo como enxergava a vida (algo que acontece toda semana quando se tem 14 anos), que finalmente vislumbrei tudo que Kanye West já era naquela época. Ni**s In Paris foi minha música mais ouvida de 2011, também da minha formatura no ensino médio, lembro de ouvir Yeezus assim que saiu, e de antecipar cada novo rumor de lançamento pelos próximos anos.

Mas hoje não mais.

Enquanto rolam as lives de Donda, e todos tentam encontrar maneiras ilícitas de assistí-las, não me sinto excluído mesmo sabendo que esse pode muito bem ser um momento crucial na história da música. Como o próprio Kanye West diz, ser um fã de Kanye West é ser um fã de si mesmo. Sim. Mas também é difícil as vezes, por mais prazeroso que seja inventar desculpas e passar pano pra cada nova Yezice que aconteça, a impressão que tenho é que a qualquer momento ele pode se juntar à Elvis, Michael, Lennon e tantos outros gênios, loucos, que vão em um piscar de olhos e o mundo enfim para pra perceber o quão diferente se tornou após uma única existência.

Kanye West é o maior artista do século 21, ninguém revolucionou tanto o seu meio e influenciou tanto todos os outros. Nenhum diretor, pintor, escritor, nem mesmo Beyoncé (apesar de dividir com ele a primeira posição) quebrou tantos paradigmas: das mochilas que tornaram o Rap possível para tantas boas crianças em cidades más, às orquestras inimitáveis que aproximaram o gênero ao passado e a erudita, às músicas de estádio que aproximaram o gênero do futuro e da música Eletrônica, ao 808 e o coração partido que transformaram a música como um todo e ditaram o humor da década seguinte, à perfeição, à ruptura, à bagunça, à vulnerabilidade, à redenção, à descoberta. Cada álbum de Kanye West foi um acontecimento, e você provavelmente sabe quais são todos esses que me referi sem que eu precise dizer, tamanha a capacidade de cada um deles de marcar sua época.

Premiado como poucos - mesmo sendo constantemente esnobado do maior gramofone, que deveria ter ganho ao menos três vezes -, Kanye West uniu críticos e fãs, ao tornar acessível gêneros e estilos que jamais chegariam ao mainstream não fosse por ele. De Bon Iver à Death Grips, influenciando The Weeknd, Frank Ocean, Brockhampton, Emicida no caminho, impressionando Lou Reed e Paul McCartney. Ele fez músicas que Michelle Obama coloca em suas playlists, enganou a todos com seu esquisito - e podemos dizer falso? - apoio a Donald Trump, revoltou a legião de fãs de Taylor Swift, e faz homens feitos (Elon Musk, Jonah Hill) parecerem crianças quando vislumbrados com a possibilidade de apreciar mais uma de suas obras.

Nesse exato momento, Kanye West está em uma réplica da casa onde cresceu com sua mãe no meio de um estádio, com o mundo ansioso e esperando para o lançamento do álbum batizado do nome da pessoa que mais amou, e de quem ele que deve sentir falta todo dia. Como no final de Runaway, nunca ninguém entendeu Kanye West, talvez nem ele mesmo. Isso o isolou em um mundo que ele ajudou a moldar, em uma cultura com sua essência impregnada, onde ele tornou comum o artista principal desaparecer no meio dos versos dos convidados, entre músicas lentas, monstros e ultra-raios de luz. E esse mundo espera, antecipa, e adiciona camadas na ansiedade provocada por dois anos de pandemia.

Eu acho que nem existe Donda, na verdade. Acho que não existe álbum, e sim fragmentos de ideias que ninguém bem entende o que é. Ouvi pouco mais de dez minutos, e nada daquilo me parece próximo de estar pronto, e não me surpreenderia se nunca mais ouvíssemos nenhuma dessas músicas. Na verdade, a única coisa que me surpreenderia seria se Michael Jackson saísse de dentro daquela casa, e o simples fato de cogitar isso mostra o quão singular é Kanye West.

Mas enquanto estamos aqui, esperando, entre crianças, adolescentes, jovens adultos e até alguns boomers, a única certeza é que poucas criaturas no mundo sequer mereciam a atenção, com tão pouco sinal de que receberemos qualquer coisa em troca. Ou melhor, já recebemos.

Kanye West é o maior artista do século 21.

Anterior
Anterior

Crítica | A Lenda de Candyman

Próximo
Próximo

Crítica | Sling - Clairo