Crítica | Bryson Tiller - True To Self
Bryson Tiller ainda está no início de sua carreira, e talento ele tem, resta saber o quanto se pode tirar dele.
Talvez o aspecto mais interessante de suas habilidades seja a sua voz, meio abatida, um tanto desinteressada, lembrando um pouco da tranquilidade de Jay-Z. Seu flow é bom, ele segura bem a maioria das faixas, sem nenhum erro de fácil percepção, suas performances estão bem dosadas, entrando bem em cada produção. É excelente o fato de que as músicas tem um número tão pequeno de compositores, o que não se pode dizer da produção, extremamente variada e nunca fixando em apenas um som.
É difícil encontrar uma forma propriamente dita aqui. É um álbum sobre ser honesto consigo mesmo, e sobre experiências próprias que ele viveu, e apesar de tudo ficar em volta disso, nunca se dá a impressão de que é um conceito realmente explorado. Musicalmente o álbum é muito simples, ele puxa para o lado de Kendrick em certos momentos, o final tem fortes toques de Drake, e é bem claro que sua maior influência é Kanye, há muito pouco de apologia à ostentação aqui. Há alguns cortes que poderiam ser feitos. "Teach Me a Lesson" é muito óbvia, "Money Problemz/Benz Truk" é tão genérica que parece uma reunião de reutilizações.
Mas nada segura mais "True To Self" do que sua falta de destaques. Não há nenhum hit claro e é até difícil distinguir o que poderia ser single e o que não, as dezenove músicas muitas vezes parecem menos, pois é difícil de lembrar qual tem qual som, é algo quase homogêneo. "Run Me Dry", se apoiando bastante em house music é interessante, mas nunca chega a ser grande. "Don't Get Too High" talvez seja a melhor música aqui e começa o álbum bem, mesmo que sua produção tenha poucos elementos que a diferencie do resto do rap que é feito hoje. A homogenia é tanta, que você não percebe quando ela acaba e "Blowing Smoke" começa.
"True To Self" lembra um pouco de "More Life", um monte de músicas jogadas em qualquer ordem, quase uma playlist. Não é um maior atestado de suas habilidades do que sua estreia, mas não é nenhum sinal ruim também. Em um mundo com diversos rappers de alta qualidade, e que o melhor álbum do ano foi um álbum de rap em pelo menos três ocasiões nos últimos sete anos, é preciso que todo seu talento bruto seja muito bem trabalhado para que ele possa estar entre os principais nomes. Ele tem tempo, e talvez talento para isso.