Crítica | Mulher Maravilha

Finalmente. A DC conseguiu fazer de "Mulher Maravilha" seu melhor filme, e também a primeira boa produção envolvendo uma super heroína como estrela principal. Tudo bem que ambos os feitos não queiram dizer muito, mas ainda sim, é um acerto gigantesco. 

Dirigido por Patty Jenkins, do excelente "Monster", "Mulher Maravilha" (sem nenhum subtítulo, obrigado) conta a história de origem da guerreira amazona, onde após salvar a vida do espião de guerra Steve Trevor e descobrir sobre a guerra no mundo fora de Themyscira, parte em busca de Ares, o Deus da Guerra, a fim de trazer paz ao mundo. 

Dividido claramente em três atos, o filme começa de forma duvidosa. Por qualquer motivo utilizaram uma Terra feita em CGI na primeira cena do longa, e mesmo não tendo Zack Snyder parece que é do gosto da empresa começar seus filmes com narrações e sequências de auto reflexão de seus personagens. A composição visual na empresa onde Diana trabalha lembra bem o universo que a DC vem construindo em seus filmes, mais sombrio, polido e elegante, realmente agradável ao olhar, e a presença de elementos da Liga da Justiça são bem claros. 

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O filme começa mesmo quado somos levados à infância de Diana, em Themyscira. A diretora Patty Jenkins prova que tem boa noção de espaço e composição de cena, a construção de mundo é espetacular, lembrando um pouco algumas paisagens de "Senhor dos Anéis", o visual das amazonas é grandioso e realista ao mesmo tempo, mas parece que esse lindo cenário nunca é usado como deveria. A direção das atrizes é fraca, elas não interagem o suficiente com o mundo construído a sua volta, e as interpretações caricatas realçam os diálogos, expositivos em excesso e muito superficiais. A essa altura eu já estava colocando a mão no rosto (DC, you did it again) e isso foi realçado na primeira cena de batalha, onde a falta de efeitos práticos prova ser o calcanhar de Aquiles do filme. Gadot parece muito com a Mulher Maravilha, mas ela não realiza praticamente nenhuma das cenas de ação, editadas em excesso, e abusando tanto da câmera lenta que lembra "Transformers". Os movimentos envolvidos no combate são bem feitos, as atrizes souberam utilizar os cavalos, arcos e espadas, e a grandiosidade e importância na luta das amazonas são realçadas pela boa trilha sonora, mas a falta de realismo impede as cenas de serem elevadas a outro patamar. 

A saída de Themyscira nos traz o ponto alto do filme, a química entre Gadot e Chris Pine, que além de hilária provoca discussões muito interessantes sobre feminismo, comportamento humano, amor e um bom exemplo do mito da caverna de Platão em dois pontos distintos. Os diálogos melhoras, os dois tem espaço para trabalhar, e em nenhum momento sua ingenuidade quanto a um novo mundo parece forçada. O ritmo encaixa aqui, temos uma longa sequência sem ação, mas que é muito engajante pela trama desenvolvida, de forma muito mais concisa que os trabalhos anteriores da DC, e uma excelente construção de época. Existe um bom balanço entre a questão dramática e moral da história com atos cotidianos que não deixam o filme ficar pesado demais. Uma ou outra piada poderia ser cortada, mas fora a usada no trailer sobre escravidão da secretária de Steve, o filme sucede muito em trabalhar o feminismo de forma subjetiva. 

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Gal Gadot me surpreendeu, apesar de não ser uma grande atriz, sua semelhança com Diana e a dedicação para o papel são louváveis, o olhar dela é capaz de convencer qualquer um e seu desenvolvimento é o melhor de qualquer personagem do universo da DC. Ela não apresenta a força física característica da personagem, mas a armadura foi bem desenhada para seu corpo, e isso é algo que pode ser melhorado em filmes futuros. Chris Pine é outro grande acerto, dando auxílio perfeito para Gadot na construção de sua personagem e desenvolvendo um herói que não usa capa, com valores e conflitos claros e bem trabalhados. O elenco de apoio funciona como apoio, e talvez tenha até mais tempo em tela do que merecia. 

Se algo realmente segura todos esses filmes é o apreço por ação estapafúrdia, e a falta de pelo menos UM vilão convincente, neste filme temos três Danny Huston, Eleana Anaya e outro que não se deve nomear, e nenhum serve para nada além de serem dispositivos para o crescimento de Diana como personagem. Chamem de maldição de Heath Ledger caso queiram, mas é inacreditável como nenhum filme de super herói (Marvel inclusa) consegue um antagonista de peso, que aumente o valor da obra. Eu esperei o filme inteiro pelo feixe de luz, ele não aparecer é uma evolução sensacional, mesmo que a pressa em finalizar essas histórias e o uso excessivo de CGI no ato final são os mesmos erros dos filmes passados. Não existe motivo para trazer vilões tão importantes em finais de filme e simplesmente destruí-los sem aproveitar nada de suas personalidades, um bom vilão cresce junto com a narrativa, não apenas encerra ela. 

"Mulher Maravilha" acerta em muitas coisas novas, mesmo que ainda peque nos mesmos erros que esperávamos que fosse pecar. Fosse um bom vilão, e cenas de ação mais naturais, teríamos um dos 10 melhores filmes de super herói de todos os tempos. Do jeito que ficou, temos o primeiro bom filme da DC desde a trilogia de Nolan, muito bem costurado e com um segundo ato empolgante, além de terreno para possíveis continuações. Not Superman, not Batman. Princess Diana, you did it.   

7.6

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