Melhores Músicas Novas | LCD Soundsystem - call the police / american dream

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escute as faixas no fim do post

Depois de uma música de natal surpresa, shows em festivais e datas para uma turnê, o famigerado retorno do LCD Soundsystem ganhou cara - e som - de verdade.

A banda lançou, semana passada, duas músicas inéditas que devem estar no álbum novo - não singles, não um "lado A" e um "lado B", mas duas faixas novas. Tudo isso está bem explicadinho no textão do James Murphy (que já nos deixou mal-acostumados com esse hábito dele) publicado no lançamento das canções.

Mas afinal. São boas?

São ótimas. 

Não vou mentir e dizer que são incríveis: talvez não se tornem grandes clássicos do LCD, mas as duas passam energia, verdade artística por parte da banda como um conjunto novamente e, principalmente, inspiração.

"call the police" consegue ser extremamente enérgica sem deixar de ser super melódica. Tem uma harmonia gostosa e nostálgica que lembra a vibe de "All My Friends", porém, troca a profundidade emocional dessa pelos nervosismo empolgante de algumas faixas do primeiro álbum da banda. É uma música, no geral, pra cima: parece que, mesmo com o incômodo que a banda e James Murphy sentem em relação aos temas tratados na letra, nada supera a alegria e a diversão que os caras parecem estar tendo em tocar juntos novamente.

Há quem vá dizer que é uma faixa muito New Order, mas acho que essa comparação é simplória demais. Sim, há uma influência clara dessa banda na faixa, mas, da mesma maneira, também percebo influência de "Heroes", de David Bowie, na guitarra lead, e até mesmo uma aura U2, grandiosa e ressonante, em "call the police". Contudo, a maneira com a qual a banda une todas essas referências e elementos, junto aos vocais de Murphy (que, apesar de não trazer sua melhor poesia aqui, ainda faz jus ao seu legado, num caldeirão de críticas, desabafos e pilhas de adrenalina) é o que reitera o "carpe diem" que o LCD parece estar vivendo com a reunião da banda. É rock pra estádio cantar e pular junto, mas da maneira que só o LCD sabe fazer.

"american dream" é a segunda faixa dessa pequena amostra do álbum, e vem com uma atmosfera totalmente diferente da primeira música. "american dream" é uma balada, suave e etérea, sem deixar de ser profunda e intensa. Ambientada na manhã seguinte de uma ficada-de-uma-noite-só com alguém, a atmosfera da música consegue passar o peso nos sapatos, a dor de cabeça, o sofrimento no peito de Murphy. Existem muitas canções que falam sobre essa ressaca do coração, mas poucas com tal nível de emoção.

A canção parece uma poesia que poderia ser lida pelo autor no consultório de terapia. Mais abatido do que em qualquer outra canção dessa vibe do LCD Soundsystem, James faz das tripas coração em "american dream". Nessa crise de meia-idade (uma All My Friends, parte II, quem sabe), ele fala da falta de se sentir em casa e acolhido, da superficialidade dos encontros românticos que tem (e da esperança agoniante de ainda encontrar a pessoa certa). Fala da frustração de se machucar para cuidar dos outros e, mais que isso, saber que tal comportamento é parte muito profunda do seu ser para ser mudada agora. 

Mas o que dá à canção a vibe necessária para tais reflexões é o restante da banda. Se "call the police" é rock de estádio ao estilo LCD, "american dream" é uma balada introspectiva ao melhor estilo LCD. Uma chuva de sintetizadores absolutamente bem harmonizados, alguns dando a leveza melódica necessária, alguns em sequências mais repetitivas que dão andamento e levam a música adiante. Uma percussão com gostinho bom de anos 90, um baixo suavemente bem colocado. Todos os elementos se unem numa harmonia que, sem deixar de ser bela, toma o cuidado de não demandar mais atenção do que a afável tristeza que desejam passar.

No fim das contas, ambas faixas ultrapassam a marca dos 6 minutos num piscar de olhos. Não é a primeira vez que o LCD Soundsystem faz isso conosco, então, teoricamente, isso nãp deveria ser surpresa. Entretanto, dado o contexto de inesperado retorno da banda, ouvir eles inspirados e nos entregando, novamente, o que sabem fazer tão bem, dá um quentinho no coração. E torna inevitável uma expectativa boa.

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