Crítica | Um Lugar Silencioso 2

o poder do silêncio e A pureza da tensão.

Se o primeiro Um Lugar Silencioso foi vítima da necessidade coletiva de significar tudo que ocorre em uma tela de Cinema, este parece quase uma resposta.

Fugindo completamente do pós-horror - há uma mensagem familiar bem conservadora na coisa toda, até meio brega, mas são filmes que oferecem uma relação muito mais simples com a linguagem do que todos aparentemente gostariam - pode até parecer que este segundo filme tenha um sensação pandêmica como maneira de metaforizar a realidade, mas sendo uma sequência direta do original, são mais coincidências do que influências. Agora sem o pai e marido, que fica só por trás das câmeras a não ser por um flashback, a família Abbott tem de deixar sua casa destruída em busca de… qualquer coisa.

Talvez o que melhor funcione nesses filmes seja o instinto de sobrevivência dos protagonistas. Apesar de Blunt forçar um pouco além do que o filme pede, as atitudes de todos possuem uma natureza diretamente relacionada às novas regras daquele mundo, e a vontade que os rege é simples: sobreviver e proteger quem amam. Não há filosofia barata, indiferença com a situação ou uma esperteza presente em outros filmes apocalípticos, o simples fato de o filme começar com eles caminhando sem rumo mostra que acreditam, ao menos, em algo.

O curioso é que esse algo nunca se materializa. Tanto essa sequência, como o anterior, termina antes de qualquer solução que não a prática: um novo jeito de enfrentar as criaturas, o que cria um senso de dois filmes em um que nem sempre conversam da melhor forma. Pois apesar de plantar as sementes do sentimentalismo, Krasinski parece muito menos interessado nelas do que no barulho que suas folhas fazem com o vento.

Do início ao fim, e ainda mais do que seu antecessor, Um Lugar Silencioso 2 é um exercício de tensão, que se instala na primeira sequência e permanece até a última - o que torna a pouca duração uma dádiva. Com uma edição dinâmica ao intercalar entre os dois núcleos com planos e situações semelhantes, mesmo quando pulamos de um ao outro a tensão segue se somando de maneira progressiva, graças a raccords de movimento tanto dos atores como da câmera. Não é como se tivéssemos sequer tempo de nos perguntar o que ocorre lá, porque o aqui já é tenso o suficiente.

Mas o curioso é que se a diversão do outro era quase inteira pelo design de som - será que tal barulho foi alto o suficiente? -, essa é mais por distâncias construídas e pelo tempo se acabando entre elas. Presos no bunker, o machucado do filho, a mãe que volta pra cidade por algumas horas, a viagem de dois dias até ao cais que leva à ilha. Quase como uma bomba relógio de situações, é um filme que usa do nosso conhecimento prévio das criaturas - ou seja, não existe mais medo do desconhecido - para trabalhar nas situações provocadas por elas.

Mas se toda essa praticidade promove uma experiência intensa, o pós parece esvaziado em excesso. Não necessariamente de uma maneira sensorial, quando terminei de assistir desci pra tomar uma água na rua e inconscientemente evitei fazer barulho, e não que precisasse romantizar tudo, mas a cena na ilha é tão confortante que talvez os personagens merecessem terminar em uma nota mais positiva do que o som dissonante no rádio. No fim acabei me afeiçoando por todos, e é até bem bonito como o guri e o cara tem seus momentos de superação emocional, a ponto que Krasinski podia ter apostado mais nisso aqui, e não deixado pro tempo entre esse e o terceiro filme - que parece inevitável vide o sucesso.

Por fim acho que até gostaria que o diretor brincasse mais com essa questão da pandemia, de ter um experimento coletivo separado que se isola do problema geral. Parece que ele poderia ter um grande filme em mãos e se contentou com um bom.

Talvez o terror mais divertido desses últimos anos junto com A Visita, é uma pena que Um Lugar Silencioso 2 pare por aí mesmo. Se bem que, num mundo cheio de filmes pretensiosos, é legal ter um que se divirta em ser o que é.

7.4

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