Crítica | O que a natureza te conta?
Hong sang-soo nos pergunta.
As respostas ficam por nossa conta.
Sang-soo propõe uma abordagem diferente a um tópico caro nos seus filmes: o que é fazer arte? Seu mais novo longa (dos dois lançados no Brasil em 2025) tenta responder essa pergunta estudando um personagem que não sabe responder isso. Em menos de duas horas conhecemos esse personagem (ao mesmo tempo em que ele conhece a família da sua namorada) e passamos um dia inteiro com ele, enquanto Hong Sang-soo nos mostra vários aspectos do seu ser.
Na primeira metade do filme até temos a impressão de que o jovem tem alguma inspiração. Logo que chega na casa onde a história se passa, ele e seu sogro tem uma conversa bonita em que ele esboça sentimentos sobre a história da família da sua namorada. Essa é uma das cenas que Sang-soo nos faz confrontar o constrangimento que é conhecer alguém. A conversa deles é permeada de silêncios e tentativas de conexão mal sucedidas.
O controle que o diretor tem do tempo nos seus filmes nos permite conhecer seus personagens e entender suas perspectivas, seu ritmo de fala e suas posições no esquema das coisas enquanto eles mesmos estão criando essas impressões uns sobre os outros. Enquanto o protagonista conhece o pai e a irmã da sua namorada, temos uma posição distante e até otimista sobre o homem. Mesmo assim, os personagens estranham as coisas que ele fala: se orgulha de ter comprado um carro usado que o sogro imediatamente diz que foi muito mais caro do que deveria, se orgulha de não depender do pai, mas quando precisa pede dinheiro a ele.
A economia de Sang-soo faz cada cena ter um valor próprio sem correspondência entre si. Quando a namorada questiona o protagonista sobre ele nunca querer entender nada, numa cena filmada de longe, constrangida, quase fora de foco, ele passa a ter outro peso na composição do filme. Não se trata mais de um jovem poeta, filho de um homem rico, mas de uma pessoa pouco interessante, que performa uma posição sensível na realidade, sem conseguir dizer quase nada sobre ela.
Já no final de O que a natureza te conta, quando já conhecemos profundamente esse personagem, ele sai a noite sozinho para explorar a natureza em volta da casa dos seus sogros. Ele usa a lanterna do celular para iluminar uma flor, ele deita em um banco para observar a lua e ele tropeça e cai. Experiências que não tem nenhum valor isolado, ou significado próprio. A não ser que a gente queira atribuir sentido a elas. Durante o jantar que é o clímax do filme, esse mesmo personagem recita um poema seu (horrível, diga-se de passagem) sobre uma flor no escuro, ele também tenta relacionar duas árvores que viu ao longo do dia, sem muito sucesso.
Assim que Hong Sang-soo tenta responder a pergunta que está nos colocando. Fazer arte não é uma performance (andar com um caderninho anotando coisas, falar que duas árvores são parecidas), é tentar dar sentido ao mundo como ele apresenta. É possível que o protagonista do seu filme tenha enxergado alguma relação entre as duas árvores que viu, mas é porque ele não consegue explicar essa sensação que ele não consegue também fazer poesia.