Crítica | Cry Macho
Para a figura mítica de Clint Eastwood, poucas coisas fariam justiça conforme a idade chegasse.
Assumido como um homem cujo tempo ficou no passado, o astro parece cada vez mais aceitar não apenas a idade, mas as mudanças que “Toy Story” já havia anunciado duas décadas atrás. Os Cowboys foram trocados pela tecnologia, e o que antes era um posto de glória e admiração, hoje é quase um retrato da decadência de toda uma cultura.
Em “Cry Macho”, mais que em “A Mula”, ele parece aceitar essas mudanças, com direito a um monólogo sobre como ser macho é superestimado e com um final que poderia muito bem ser o da própria carreira. Essa, no entanto, deve seguir enquanto ele seguir (“não tenho nada melhor pra fazer”, disse sobre se aposentar) e é curioso como seus últimos personagens personificam isso: dessa vez, ele é literalmente um ex-cowboy que é chamado para um novo trabalho anos depois.
E o que muitos viram como falha, considero ser a maior força de “Cry Macho”, como Eastwood, o cineasta, brinca com o próprio status, sendo que o filme funciona melhor caso você conheça a carreira de Eastwood, o ator. Afinal, apenas assim para acreditarmos que um senhor de 91 anos seja capaz de enfrentar um cartel mexicano sem o uso de uma arma sequer - a não ser que o galo conte como tal. Pode sim soar auto-indulgente por o pintar como um homem temível, implacável, mas também sábio e sentimental, pra mim soa mais como uma sincera auto-homenagem, como um homem olhando pra si mesmo e tentando avaliar o que de positivo ficou de toda sua história.
Simples em suas escolhas, “Cry Macho” segue as tendências de seus últimos trabalhos como diretor, menos preocupado em uma estilização característica e mais em como aborda seus acontecimentos. Por mais que ainda consiga evocar a aura de personagens passados, as cenas de ação são resolvidas de maneira simples, quase cômica, e o cenário de faroeste surge tanto como uma lembrança para qual ele retorna com um novo pupilo - que, por sua vez, faz as pazes com um grupo que gosta tanto de colocar como inimigo - como um recurso visual perfeito do fim de sua carreira. O sol se torna um elemento forte, desde como torna árido aquele lugar, mas também como o faz ser mais aconchegante e caloroso do que a cabana escura na qual mora e da qual tampouco liga, criando então um contraste com a sala mal iluminada de Marta, que surge como um lento e emotivo apagar de luzes que aponta para um novo começo.
Lembra bastante o “Notícias do Mundo”, onde Tom Hanks faz praticamente o mesmo, mas foi mais fácil ver Eastwood bonzinho do que o Woody atirando em pessoas. É curioso porque parece um filme dirigido sozinho, menos com ideias previamente pensadas e uma decupagem detalhista, e mais com uma aura que existe na frente e por trás das câmeras. A janela do carro sob o por do sol, embaraçando o que vemos por dentro, um olhar e um toque de mãos a mesa, é um filme que procura delicadezas talvez fora de moda hoje em dia, mas que representam o meio de seu cineasta de demonstrar que os brutos também amam.