Crítica | Maestro

Ambicioso mas pouco magistral.

Volta de Cooper a direção o conduz a um resultado frustrante.

Quando Bradley Cooper, o ator esquisito, anunciou que queria se aventurar como diretor foi natural muita gente duvidar da capacidade dele porque, mesmo nos papéis mais dramáticos, Cooper não demonstrava a sensibilidade de um bom artista. Porém, seu “Nasce uma Estrela” nos surpreendeu especialmente pela vocação de Cooper atrás das câmeras, um certo instinto que apenas alguns diretores hollywoodianos possuem de não ter vergonha da própria breguice a ponto de a transformar em sensibilidade pura. Se foi sorte ou instinto eu já não sei mais, certo é que em “Maestro” Cooper deixou isso de lado e abraçou uma direção ousada nos lugares errados e vazia nos lugares mais importantes.

De certa maneira, o público do cinema se habituou a Leonard Bernstein, mesmo os menos interessados em música clássica. Dois filmes indicados ao Oscar de melhor filme nos últimos dois anos têm o maestro em seu centro: “Tár” em que Bernstein é um personagem quase ausente, mas fundamental para compreensão da história e “Amor, sublime amor” baseado numa das obras de música popular dele. Dessa forma, trazer de novo essa figura tão fundamental na arte do século XX à telona (ou telinha porque por azar de Bernstein foi a Netflix que se interessou pela sua vida primeiro) é um ato calculado para angariar indicações a prêmios e não um projeto de um diretor que tem muito a provar.

Não que falte ambição a Cooper aqui, mas talvez o adjetivo ambicioso deva ser trocado pelo primo feio dele: pretensioso, quando a ambição é mal direcionada. A primeira escolha que facilmente cabe nessa categoria é a de filmar a primeira parte do filme em preto e branco, demonstra uma insegurança muito grande com o próprio filme recorrer a esse recurso só pela metade. Ele tenta nos contar que não importa o quanto conhecemos Bernstein e sua esposa os filmando de muito longe em alguns momentos íntimos, pintando quadros que lembram arte moderna e infelizmente não servem para muita coisa, porque é uma ideia que não extrapola a necessidade de closes para garantir a indicação ao Oscar e funciona só pela metade.

Por outro lado, as cenas em que vemos Bernstein conduzindo sua orquestra, em especial a que ele rege Mahler numa igreja, são os momentos em que a direção de Cooper reencontra a que parece sua melhor qualidade: se identificar como artista com as histórias que conta. Se nos próximos projetos Bradley Cooper seguir sendo um caçador de oscar baits os estúdios rapidamente o transformarão em mais um dos diretores tarefeiros hollywoodianos, a batalha de Bernstein é justamente a do seu intérprete nos próximos anos, comprovar que seus sentimentos existem e que é capaz de nos encantar com eles como Bernstein.

4,5

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