Crítica | O Céu da Meia-Noite (Netflix)
É uma época no mínimo curiosa para lançar um filme como “O Céu da Meia-Noite”.
Dirigido por George Clooney e escrito por Mark L. Smith a partir do livro de 2016 de Lily Brooks-Dalton, “Bom Dia, Meia-Noite”, o longa acompanha os esforços de uma equipe de astronautas que retorna para uma Terra devastada após uma missão, enquanto o último cientista - e potencialmente humano no planeta - tem de avisá-los para dar meia-volta em direção a uma das colônias da humanidade.
Uma ficção científica pouco original, mas ainda assim ambiciosa, o filme não serve nem como entretenimento natalino nem como isca para o Oscar, apesar de que pode acabar arrancando algo com os efeitos especiais. Utilizados em função da história, os cenários espaciais são magníficos, desde o céu estrelado às excelentes, e bem filmadas, tomadas da nave que, desconfio, mistura efeitos práticos com os feitos em computador. O próprio design exterior e interior da nave são muito bem feitos, e apesar de apresentar uma direção irregular do ponto de vista narrativo e de ritmo, Clooney enquadra bem os astronautas para que pareça que eles pertencem àquele local onde passaram os últimos anos, com direito à uma bem vinda tomada que lembra “2001: Uma Odisséia no Espaço”.
Porém, o diretor, que também estrela o projeto, falha em comunicar qual a ligação que faz a jornada das duas tramas ser válida: sim a Terra está acabando, mas já vimos isso um milhão de vezes e não é como se estivéssemos navegando por galáxias nunca antes visitadas. Falta algo de novo, de diferente ao filme, que é construído quase que inteiramente para seu desfecho final, que é surpreendente (ao menos para mim, que não percebo reviravoltas a não ser que sejam óbvias) e comovente, mas mesmo este desfecho me fez lembrar de obras como “Interestelar”, que te fazem viajar muito mais nos conceitos e complexidade de sua narrativa. O mais próximo que chegamos disso é um comentário sobre memórias, que vem na personagem de Maya, culminando em uma cena claustrofóbica devido à vastidão do espaço ao redor dos astronautas e que relembra, dessa vez de forma positiva, “Gravidade”.
Mas apesar de Tiffany Bone encarnar a jovem com um olhar apaixonado e uma resposta genuína ao desespero da situação que se encontra (que, sim, não combina com a postura que uma especialista deveria ter) o elenco também se mostra irregular, com Felicity Jones e sua cansada “mocinha boa” fazendo com David Oyelowo (que estava incrível em “Selma”) um casal insosso e sem química. Além deles, Demián Bichir e Kyle Chandler cada um tem um drama para viver, com o primeiro convencendo (e comovendo!) bem mais que o segundo, mas é a improvável e divertida relação de Clooney e Caoilinn Springall que mais fisga o espectador, apesar de que, diferente da reviravolta que provoca, o propósito da menininha com relação ao cientista se mostra óbvio desde o começo.