Crítica | Klaus (Netflix)

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Existem demasiados filmes sobre o Natal, a maioria deles desnecessários.

Não sei quando deixei de acreditar na história romantizada do bom velhinho descendo pela chaminé, deixando presentes sob uma árvore artificial que ocupava um espaço desnecessário na sala de estar. Aliás eu nunca tive uma chaminé. Por questões políticas que definitivamente não vem ao caso agora, o Natal foi perdendo seu encanto, mas, ironicamente, é onde muitas das minhas memórias mais felizes se encontram e que foram trazidas de volta com a ajuda da belíssima narrativa que temos em mãos no longa produzido pelo Netflix.

As melhores histórias envolvendo a época natalina que saem de rabiscos - literalmente feitos a mão, não computadorizados - nos levam para os inesquecíveis “Como o Grinch roubou o natal” (1966) e o “Estranho Mundo de Jack” (1993). Klaus (2019) não se relaciona de nenhuma outra maneira com esses filmes fora seus traços desenvolvidos em 2D, além de cair em fórmulas narrativas clichês claras, diferente dos filmes supracitados que definiram uma geração e deram vida a uma nova cultura dentro do mundo das animações natalinas. Todavia, há algo inevitavelmente chamativo aqui. Seus contorno, linhas, personagens e paisagens são únicos e criativos, carregando uma nostalgia irrefreável consigo, e que poder mais forte em festas de fim de ano que uma boa lembrança.

Optando por fugir do 3D, criando facetas caricatas e singulares através de seu punho, Sergio Pablo (diretor, produtor e escritor) tem o público em suas mãos, fugindo dos padrões visuais normativos da história recente do gênero, e assim, instigando curiosidade naturalmente. Não é preciso ficar procurando particularidades estéticas do filme ou algo diferente, pois eles estão em todos os lugares - ou em um grande nariz -, reflexo de um trabalho inacreditável de iluminação e texturização dos personagens e uma quantidade imensa de camadas relativas as paisagens que criam essa atmosfera tridimensional “falsa”.

Narrativamente falando, o filme não é tão ousado quanto seus visuais, mas isso definitivamente não é um problema. Klaus aborda o natal com certo conservadorismo, e não se esperava algo diferente. A perspectiva de que benevolência incentiva o melhor nas pessoas é bem abordada e sua história definitivamente tem coração - o suficiente para você dar mais valor pra sua família no dia de natal e dar trela pro seu tio chato antes da ceia - mas nada emocionalmente arrebatador.

Por fim, fugir do padrão Pixar é criar inevitavelmente algo que ficará na cabeça do público. “Aranhaverso” é um perfeito exemplo de como esse processo funciona, sendo não só uma das melhores animações da última década como um dos melhores filmes também. Klaus não tem o mesmo apelo e relevância, mas é uma grata surpresa natalina e, em consequência desses aspecto, único.

Não preciso mais recomendar “Esqueceram de Mim” como unanimidade de fim de ano. Klaus, apesar dos pesares, é absolutamente encantador.

8

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