Crítica | Martha, Marcy, May, Marlene

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Em um ano onde Tarantino trouxe de volta a polêmica envolvendo cultos nos Estados Unidos, este filme de Sean Durkin, amplamente subestimado em seu lançamento, deveria ganhar uma notoriedade equivalente à sua qualidade. Custando apenas 600 mil dólares, o longa traz Elizabeth Olsen, em seu primeiro papel de destaque, como uma jovem fugitiva de um culto que vai morar com a irmã, mas o trauma psicológico sofrido por ela a impede de voltar a vida normal.

Com traços de suspense, mas com um arco dramático central que transforma o filme em um estudo de personagem na mesma escala em que analisa o comportamento humano, “Martha, Marcy, May, Marlene” se prova desafiador e consideravelmente desconfortável, muito graças à habilidade do diretor em provocar tensão e antecipação acerca do comportamento de Martha na casa da irmã. Em uma cena ela nada nua no lago, pois no culto não haviam inibições, em outra ela fica indignada por sua irmã sugerir que ela tem de decidir o que fazer com a vida, em outra um simples contato do cunhado nos faz suspeitar se o próprio não seria, também, capaz de machucá-la.

E todo este desconforto se dá por conta da performance de Olsen que, em seu primeiro filme, é capaz de obliterar a noção que são suas irmãs gêmeas as talentosas da família. Com uma linguagem corporal retraída e arisca, e com olhares que por mais que procurem longe, parecem vazios, a atriz toma conta dos conflitos internos da personagem, e o simples tom em sua voz quando questiona a vida vivida pela irmã apresenta uma imersão quase preocupante na personagem. Sarah Paulson, por sua vez, surge como uma figura materna problemática, que tenta aproximar a irmã da forma que acha correta, mas falha ao tentar derrubar barreiras que ela própria parece ter construído.

Abusando de planos longos e estéreis, graças à cinematografia pálida e repleta de tons esbranquiçados de Jody Lee Lipes, Durkin consegue alternar com um timing perfeito a vida de Martha tanto na casa da irmã como no culto, sempre deixando pontas soltas a cada nova transição que, pouco a pouco, justificam tanto o motivo da jovem ter deixado o culto, como possivelmente o motivo de ela ter entrado. Martha se tornou “desprendida” apenas após conhecer o Patrick (ou Marilyn Manson) de John Hawkes, ou já apresentava uma falta de interesse na própria vida anteriormente? Sua personagem se mostra, ao mesmo tempo, desinteressante e fascinante, pois funciona não apenas como indivíduo, mas como uma síntese das muitas meninas que acabam procurando movimentos como este para preencher espaços vazios em suas vidas. Neste sentido, o título do projeto se mostra genial, pois em cultos como este, a identidade de alguém precisa ser apagada, tanto por conta daqueles que podem ir atrás do(a) desaparecido(a), como pela própria consciência do(a) próprio(a).

Com uma tensão crescente que só não é maior que o pavor que somos convidados a sentir pelo culto - e da forma como ele parece não deixar Martha de lado -, “Martha, Marcy, May, Marlene” termina de forma dúbia e agoniante, fazendo com que a paranoia vivida pela personagem principal vire a nossa.

9

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