47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo | Dias 1 a 5

Mostra apresenta os principais lançamentos nacionais e internacionais do ano em intensa programação.

A ótima curadoria que espalha grandes filmes pela grande cidade de São Paulo é até difícil o que se ver, e mesmo se programando para cada sessão é possível perder muitas coisas. Vou fazer aqui um resumo dos filmes que consegui ver, a maioria não está entre os mais visados, o que é um pouco intencional, acredito que em uma mostra dessas se deva procurar e descobrir filmes novos que não passarão novamente no Brasil. E alguns são por ocasião de sorte ou azar, mesmo assim, acho que nos primeiros 5 dias de Mostra São Paulo vi mais bons filmes que ruins. E vou resumir um pouco do que vi nesse texto.

Dia 19/10:

Quase Totalmente um Pequeno Desastre.

Turquia | 2023 | 88 min. | Dir: Umut Subaşı

Competição Novos Diretores

Sinopse: Acompanhamos quatro jovens de 20 e poucos anos que vivem em Istambul. Zeynep é uma estudante que se angustia ao acompanhar as notícias diárias. Ayse divide a casa com ela e tenta fugir para o exterior porque não consegue ver qualquer futuro na Turquia. Mehmet é um engenheiro casado que nunca está satisfeito com a vida, enquanto Ali está desempregado e se sente sufocado morando com os pais. Coincidências os aproximam de forma inesperada, em uma jornada que explora os anseios enfrentados por essa geração.

Facilmente o pior filme vi que vi na Mostra. O roteiro esquemático feito só para ganhar prêmios segura qualquer possibilidade de bom cinema. O longa sai feio e sem vontade aparente do diretor em fazer seu trabalho. Muitas vezes tenta colocar a câmera em algum lugar “criativo” sem refletir sobre imagem ou sentido que isso pode condicionar. Mais um filme espertinho de ver em festival que depende uma gimmick de roteiro (resolvida em menos de 5 minutos) e fala sobre como é difícil ser jovem.

Nota: 1/10

Dia 20/10:

A Besta

França | 2023 | 145 min. | Dir: Bertrand Bonello

Perspectiva Internacional

Sinopse: Em um futuro próximo, em que a inteligência artificial dominou tudo, as emoções humanas se tornaram uma ameaça. Para livrar-se delas, Gabrielle precisa purificar seu DNA voltando às suas vidas passadas. É dessa maneira que ela se reencontra com Louis, seu grande amor. Gabrielle, então, passa a ser dominada pela premonição de que uma catástrofe se aproxima.

Um dos filmes que chega mais badalado na Mostra e em 2023, o diretor, queridinho da crítica e de festivais, faz um trabalho irregular. Ancorado em bela interpretação de Léa Seydoux no papel principal, Bonello explora as melhores maneiras de filmar a atriz e desdobra as possibilidades de exploração da realidade no cinema. Jogando com um casal (ele interpretado por George MacKay) que se encontra em uma Paris de bailes e salões no passado, de violência no presente e de inteligência artificial no futuro, o filme é bastante repetitivo e explora símbolos de vida, morte, sentimentos e artificialidade através dos tempos. No meio disso existem boas cenas, no geral as sequências no passado são muito bem filmadas, mas as outras sequências são cansativas.

Nota: 6/10

Dia 21/10:

Sessão Pedro Costa: As Filhas do fogo

Portugal | 2023 | 9 min. | Dir: Pedro Costa

Apresentação Especial

Sinopse: Três jovens irmãs são separadas pela erupção do Fogo. Mas elas cantam. Um dia, saberemos por que vivemos e por que sofremos.

Curta experimental do grande diretor português trabalha com as cores e as sonoridades na tela. Uma pintura de sensações físicas e emocionais que nos faz sentir entrando no meio da terra.

Nota: 9/10

Sessão Pedro Costa: O Sangue

Portugal | 1989 | 95 min. | Dir: Pedro Costa

Sinopse: Uma terra de província. Natal, fim de ano. Dois irmãos. Um tem 17, o outro, 10. Eles juram guardar um segredo, que tem a ver com as frequentes ausências do pai. E que só uma garota partilha com o rapaz mais velho. Mas dessa vez o pai não se ausentou como das outras. O que aconteceu? Só Vicente e Clara sabem. Segredos, promessas, separações, esperas. Querendo sobreviver a esse segredo, os dois irmãos se perdem.

Na sequência de “As Filhas do Fogo” pude apreciar uma exibição do primeiro longa de Pedro Costa. Diferente do seguimento que sua obra tomou acompanhando a vida de imigrantes no bairro Fontainhas, seu primeiro trabalho ainda tem resquícios de estudo do cinema clássico. Com ares de Godard, Hitchcock, Antonioni, Ray e outros dos clássicos, o diretor organiza suas referências em tela e acresenta elementos que se tornariam pontos importantes da sua obra como o contraste da luz e as sombras, a composição dos quadros com geometria e balanço que aumentam o sentido do que está sendo filmado e, principalmente, a triangulação de olhares entre público-personagem-coisa olhada.

Nota: 8/10

El Paraíso

Itália | 2023 | 106 min. | Dir: Enrico Maria Artale

Competição novos diretores

Sinopse: Julio Cesar tem quase 40 anos e ainda mora com a mãe, uma colombiana de personalidade forte. Eles compartilham praticamente tudo: desde a pequena casa onde vivem, a paixão pelas noites de salsa e merengue e até o pouco dinheiro que ganham trabalhando para um traficante local. O frágil equilíbrio da vida desses dois ameaça desmoronar com a chegada de Inês, uma jovem colombiana que faz a primeira viagem como “mula” de cocaína.

Clássico cinema de festival, leve e bobo com ares de seriedade, daqueles que passa com facilidade por curadorias por não chamar muita atenção. A sala estava bem cheia e o público riu muito, acho difícil que alguém pense novamente no longa depois de sair da sala, mas isso quase não importa mais. Não se filma boas imagens, mas se conta boas piadas e, o que para mim é o maior destaque, demonstra algum prazer pela vida e pelo cinema.

Nota: 6/10

O Mal Não Existe

Japão | 2023 | 106 min. | Dir: Ryusuke Hamaguchi

Perspectiva Internacional

Sinopse: Takumi e a filha, Hana, vivem em um vilarejo nos arredores de Tóquio. Lá, gerações de famílias levam uma vida simples, ditada pelos recursos e ciclos da natureza. Takumi descobre que duas grandes empresas planejam construir, perto de sua casa, um local que será um camping de luxo para turistas que desejam “escapar” da cidade. Mas a construção terá impacto no fornecimento de água e será uma ameaça ao equilíbrio ambiental do lugar.

O melhor filme da Mostra até agora e, sem dúvida, um dos melhores do ano. Hamaguchi filma uma pequena comunidade rural no Japão com amplitude de grandes épicos, a tela é ocupada por inteiro por coisas acontecendo e sua câmera obedece o ritmo imposto pela natureza, que se conecta ao céu pelas montanhas. A utlização dos níveis verticais, horizontais e de profundidade correspondem aos sentimentos trabalhados pelo diretor, complexos, profundos, longos e demorados. E o que importa, imagens e sentimentos estão sempre equilibradas.

Nota: 10/10

Dia 22/10:

Até que a Música Pare

Brasil | 2023 | 97 min. | Dir: Cristiane Oliveira

Mostra Brasil

Sinopse: Depois que o último filho sai de casa, Chiara, matriarca de uma família descendente de italianos, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pelos botecos da Serra Gaúcha. Uma tartaruga e cartas de baralho colocarão à prova mais de 50 anos de vida a dois.

Lançando seu segundo longa-metragem em 2023, a diretora gaúca busca novas margens do interior do Rio Grande do Sul. A diretora conversa com cinema clássico incorporando luzes e cores aos seus quadros que evocam grandes dilemas enfrentados pelos personagens em sua simples casa na colônia gaúcha. O uso verbal exagerado do contexto político do Brasil amplia os conflitos vividos pelo casal que após a morte do filho não tem certeza nem do seu idioma ou religião.

Nota: 8/10

Dia 24/10:

Limbo

Austrália | 2023 | 108 min. | Dir: Ivan Sen

Perspectiva Internacional

Sinopse: O detetive Travis Hurley vai até Limbo, uma pequena e isolada cidade no interior da Austrália, para investigar o caso, já arquivado, do assassinato de uma garota indígena, que ocorreu há 20 anos. Por meio de depoimentos dos familiares da vítima e de uma testemunha, além de uma conversa com o irmão do principal suspeito, Hurley passa a ter uma nova visão sobre o crime.

Tentando fazer um thriller de investigação, o diretor não realiza praticamente nada. O uso redundante do Preto e Branco (western, noir, contraste entre as cores, entende?) estraga o que poderia ser a coisa boa do longa que é o cenário no Outback australiano, infelizmente ficamos sem as cores das cavernas e paisagens que vemos na textura horrível do P&B digital. Meia-dúzia de dilemas requentados e um ator que parece Walter White tanto que tem uma piada sobre isso no meio do longa, é o que tem para ver em “Limbo” (até o título de uma redundância cansativa). O que não é quase nada.

Nota: 3/10

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