Crítica | Atividade Paranormal

HORROR caseiro

atividade paranormal faz horror universal ao seguir o orçamento com a forma


O primeiro filme da franquia Atividade Paranormal foi um sucesso estrondoso, tanto que é até hoje marketado como o filme de maior lucro da história do Cinema.

Não que seja uma competição, mas o Found Footage praticamente nasceu para que tais comparativos aconteçam. Por mais que A Bruxa de Blair (1999) não seja dos meus favoritos, sua influência é tanta que se alastrou mesmo para filmes que não usam da técnica diretamente.

Poucos, porém, parecem ter compreendido tão bem seu potencial como esse filme que poderia muito bem ser feito por um bando de adolescentes entediados e com acesso a internet.

Relembrando o terceiro filme, o qual a experiência de assistir na adolescência foi completamente traumática e absurdamente divertida, me veio uma ideia talvez um tanto exagerada: a cena onde o fantasma com o lençol branco se aproxima da babá, e o acompanhamos pelo vem e vai da câmera de segurança, é um momento quase digno de um George Méliès, caso este fosse filmado por Kiyoshi Kurosawa.

E esse pensamento se estende para esse primeiro filme: em seus muitos curtas, Melies explorava o cenário em sua totalidade. Ou melhor, não necessariamente todo o cenário seria tocado, mexido, comentado, envolvido, mas todo o cenário poderia ser. E aí, quando a porta mexe pela primeira vez no final da primeira noite, temos um dos planos mais icônicos do horror nos anos 2000. Mais de um século de filmes de terror, e eles retornam a suas origens.

O próprio quarto do casal - que parece literalmente um quarto de airBnB, alugado só pro filme assim como o resto da casa - dá os ares de um cenário do Méliès. Um plano estático onde as coisas acontecem e a câmera fica parado, em tablado, e é o dançar dos monstros que fazem o filme ser não apenas uma representação do real (como faziam os Lumiére), mas uma interpretação de temas e ideias além.

O apelo do filme é inteiro construído em torno disso, e a evolução gradual dos fenômenos é pontuada por a: exposições apavorantes (a história da infância atinge todo aquele poder justamente por ser um relato, e não um flashback meia boca) e b: cenas de humor que ajudam a fixar o filme nesse território do real (nenhum relacionamento pode sobreviver a um senso de humor infantil e uma casa mal assombrada).

E logo nossos olhares passeiam por tudo, esperando ver tudo, mas é apenas uma pequena mancha em um canto da tela que nos transporta para uma realidade assombrada, revelada pela câmera (ao verbalizar isso, o filme assume sua posição teórica). O impacto segue sendo poderoso, porque passam os anos, e todos nós nos deitamos. E todos ouvimos barulhos. E todos, crentes ou não, sentem a mesma apreensão que sentíamos quando ainda macacos perante o desconhecido.

A velha máxima do horror, posta em um filme: o barulho na cozinha é SEMPRE mais assustador que o que causa o barulho. Atividade Paranormal é uma sucessão exaustiva de barulhos que terminam por te deixar ainda mais no escuro.

8.5

Anterior
Anterior

Crítica | O Homem de Palha

Próximo
Próximo

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo | Dias 1 a 5