Crítica | The xx - I See You
Talvez você até não conheça muito do trabalho do The xx, mas eu aposto que, pelo menos essa música você já ouviu. A faixa "Intro", abertura do primeiro álbum da banda ,ficou extremamente popular mundo afora, servindo de carro chefe para a estética minimalista que o debut da banda, o ótimo disco "xx", de 2009, propunha.
O álbum de estréia do trio se destacou no mundo da música indie e alternativa, levando prêmios, recebendo muitas críticas positivas e ganhando fãs, muitos fãs. O reconhecimento não foi em vão - o trio formado por Romy Madley Croft, Jamie Smith e Oliver Sim trazia originalidade numa época em que a cena musical do gênero de indie rock/pop carecia de novas ideias. Com percussão eletrônica, guitarras com uma suavidade quase flutuante, ainda que melodiosas e precisas, vocais profundos e boas composições, o xx trazia uma sensação de pura autenticidade no seu som atmosférico, minimalista e introspectivo.
Com raízes no R&B, na música eletrônica e no hip-hop, além da influência de atos como Joy Division e New Order, o som intimista e sensual dos ingleses acabou se tornando extremamente influente ao longo dos últimos anos. Em certos casos, influente demais, ouso dizer. Talvez seja, em parte, por causa desse sucesso e boa recepção de público e crítica, que o segundo álbum, "Coexist", tenha sido uma aposta tão segura na mesma proposta. Sim, existem músicas boas no segundo trabalho, algumas ideias novas aqui e ali, mas a verdade é que, 3 anos depois de sua bem-sucedida estréia, o xx parecia confortável demais para realmente se aventurar, voltar a experimentar, e acabou lançando um disco que somou muito pouco à sua discografia.
5 anos depois disso, após projetos paralelos de seus integrantes, como o fabuloso "In Colour", de Jamie xx, a banda voltou, trazendo o tão esperado novo álbum, em 2017.
E nos primeiros acordes do álbum, que chegam em forma de sopro (algo não feito pela banda até então) já temos uma vibe diferente. A batida entra e "Dangerous" dá início aos trabalhos, uma faixa dançante, pra cima, sem deixar de ser misteriosa e sensual, muito bem produzida e catchy na medida certa. Equilibrando seu som característico com novas ideias, é uma das melhores faixas no álbum, e a introdução perfeita para o que virá a seguir em "I See You".
Após a abertura, temos "Say Something Loving", outro ponto alto da tracklist que mescla o melhor do passado da banda com uma perspectiva nova. Temos uma letra muito bem escrita, falando das inseguranças de uma relação nova e da ansiedade (boa, mas enervante) de se dizer o que se sente. A união da guitarra ecoada, do discreto piano eletrônico, e do ótimo sample dos Alessi Brothers ("before it slips away...") transmite perfeitamente o desconforto aconchegante abordado pela letra e pelos vocais de Romy e Oliver.
"Lips", apesar de mensos inovadora e inventiva, é uma música ao estilo clássico do xx muito bem executada: é densa, grave, rítmica e bem, bem sexy. Teria sido uma das melhores músicas do álbum de estréia da banda, caso lá estivesse - porém, no terceiro álbum, não fica em tanta evidência: é o xx fazendo bem o que sabemos que eles sabem fazer bem. Da próxima música, não posso dizer o mesmo.
"A Violent Noise" é, provavelmente, uma das melhores músicas de toda a discografia do xx. A letra faz uma reflexão sobre a dicotomia da vida noturna e dos problemas com a bebida de Oliver: quanto mais alta a música, menos ele escuta o que há de real em sua vida. Quanto da festa é alegria e quanto é apenas escape? Toda a produção da música dá suporte a esta temática com perfeição: o crescendo das guitarras e dos sintetizadores, e a evolução da percussão sem que ela caia na obviedade de uma batida grave no alicerce da canção, mantém ela tensa até o fim, mesmo após o delicioso riff da guitarra.
A música tem muito de Jamie xx e é uma das mais introspectivas e diferente do usual para os ingleses. Apesar de toda a tensão envolvida, ainda entrega uma composição musical maravilhosa, daquelas que fica na cabeça e não incomoda, mas agrada.
As próximas duas faixas, apesar de não ser tão inventivas, musicalmente, para o xx, não deixam de ser aparições sólidas no álbum. "Performance" é escrita e cantada apenas por Romy, e a vocalista faz um belo trabalho. Há um senso muito forte de intimidade explorada na canção, e todo o pesar de se sentir não vista, sozinha ao fim de uma relação é percebido a cada nota que a cantora entoa. Uma canção tocante e muito pessoal. "Replica", assim como "A Violent Noise", é mais um exemplo de novas águas sendo navegadas pela banda aqui em termos de escrita.