Crítica | Os 13 Guardiões

Inevitabilidade Bressoniana

Filme de Chang Cheh encontra glória entre o épico e o vazio


Cinema e percepção, e cada vez mais acredito que algo tão simples como o título do filme pode alterar drasticamente o sentido de tudo que vemos.

Enquanto Os Heroicos emana a dicotomia mais interessante, e o brasileiro Sangue de Heróis remete até mesmo a John Ford, o titulo intencional de Chang Cheh, Os 13 Guardiões, me parece o que melhor resume a obviedade e praticidade de um homem que fazia quatro, cinco filmes por ano.

Seu terceiro que assisto, certamente é menos melodramaticamente potente como o Espadachim de Um Braço (1967), e também menos transcendental que Golden Swallow (1968), mas talvez seja o primeiro onde consigo finalmente conceber o cinema de Cine em toda (ou melhor, parte de) sua autoria.

Quando um dos 13 Guardiões, inicialmente o mais poderoso e candidato a protagonista, é amarrado por cordas com a intenção de ser desmembrado, o que se espera é que ele consiga fugir. Mas quando a cabana cai, e seus membros são arrastados por cavalos deixando uma trilha de sangue, a mim ficou claro que estava frente a um diretor de capacidade infindável. Para suas referência ao épico visual originário em Cabiria (1914) e ao esvaziamento da imagem de um Robert Bresson, que tornam seus festins de destruição em momentos vazios de humanidade, Cheh tem seu próprio modo.

A morte e a glória, como descreve Sean Gilman, duas coisas indissociáveis em sua interpretação da China feudal, onde a contagem de corpos se torna adorno imutável de uma paisagem indiferente. Grandes fortalezas, portões, muralhas, manchadas de corpos atirados ao chão aos quais a câmera não oferece nada se não a mesma superfície na qual toda a ação acontece. Mesmo nas inacreditáveis cenas de guerra, que premeditam o que parecia milagre em Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002), por mais que essa câmera se movimente como se dentro da ação, nunca realmente importa o que esta fora dela. Nesse sentido, não me parece ser uma câmera Mizoguchiana, que trabalha com o todo, mas sim com a capacidade mais física da imagem, lentes que tornam tudo uma pintura de superfície.

O peso se torna, devidamente, a mudança na composição, corpos que caem sem cerimônia, sangue que jorra sem tempo para dramatização. O caos de uma batalha se torna, então, uma imagem inevitável do pós - daí, sim, um traço Mizoguchiano, se ao menos próximo disso.

Não que o cinema de Cheh seja, como dizia Rivette ao se referir a Mizoguchi, modulado - as conversas e atuações cheias de histrionismo me parecem ir contra essa ideia, e os grandes momentos sejam de violência ou drama também - mas há uma certeza de que, no fim, tudo morre. O que importa é como.




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