Crítica | Instinto
INDICADO HOLANDÊS PARA CONCORRER A CATEGORIA DE “MELHOR FILME INTERNACIONAL”, INSTINTO É UM FILME PROVOCATIVO DO INÍCIO AO FIM.
Instinto é o primeiro trabalho como roteirista e diretora da consagrada, em terras holandesas, atriz Halina Reijn. Com uma premissa que desperta curiosidade e, como não poderia ser diferente, receio de como a história será trabalhada, o filme se mostra um sólido trabalho sobre a delicada questão da ressocialização de criminosos.
A história segue a experiente psicóloga Nicoline, que, entre seu conturbado ambiente familiar e seus desejos de parar por tempo indeterminado seu trabalho, aceita uma vaga em uma instituição penal voltada para o tratamento e recuperação de criminosos considerados violentos. Lá ela é apresentada ao que será seu paciente mais importante, Idris, condenado e preso por uma série de abusos sexuais cometidos há alguns anos mas que está no processo de conseguir sua liberdade condicional.
Nicoline, interpretada por Carice van Houten, a Melisandre de Game of Thrones, é uma personagem complexa, distante de seus colegas de trabalho e envolta em um núcleo familiar curioso (a relação com sua mãe é, em resumo, estranha), mas que apesar disso a todo momento mostra-se independente. Já Idris, personificado por Marwan Kenzari, o Jafar de Aladdin, é um personagem que joga muito com sua posição de “perigo” e “liderança” dentro do espaço prisional, ao mesmo tempo que tenta provar sua recuperação para a equipe psicológica que o avalia diariamente.
Nesse bem construído jogo de poder, a diretora e seus dirigidos nos colocam a todo momento em uma posição incomoda e difícil: a de especular sobre a sua possibilidade de retorno à sociedade e também a de decidir se ele de fato é apto a voltar ao convívio fora da prisão. A todo momento o filme trabalha com o fato de o espectador não ter certeza se Nicoline manipula Idris, ou se Idris manipula Nicoline, levando a momentos de tensão e um final bastante conflituoso.
O espaço onde o filme se passa na maior parte do tempo, a prisão, é um lugar de silencioso destaque, em um sistema prisional diferente do brasileiro ou do estadunidense que estamos acostumados a ver retratado, aqui o ambiente é espaçoso, bastante moderno e os presos convivem muito próximos de seus carcereiros e da equipe psicológica, o que intensifica a sensação de dubiedade em que os personagens se encontram.