Crítica | Um Lindo Dia na Vizinhança
Lúdico e engenhoso, “Um Lindo Dia na Vizinhança” é capaz de captar a essência de Fred Rogers e emocionar até aqueles pouco familiarizados com seu trabalho.
O filme se passa como um episódio de Mister Roger’s Neighborhood com direito a música de abertura, participação dos amigos do Mr. Rogers, e até mesmo cenários em miniatura. Mas não se engane, apesar de Tom Hanks interpretar o protagonista não é nele que a história foca. Hanks divide o protagonismo com Matthew Rhys, que interpreta Lloyd Vogel, um jornalista cínico e cético.
A narrativa segue a relação dos dois e os conflitos familiares de Lloyd com sua família. Enquanto Mr. Rogers é apresentado como um santo, quase uma divindade, Lloyd faz questão de desafia-lo e contesta-lo a todo instante. A dinâmica entre eles funciona bem e acaba se estendendo a toda a família Vogel.
Os diálogos abrem espaço para debates sobre inteligência emocional, raiva e perdão. Mr. Rogers atua quase como um mentor ou um segundo pai de Lloyd, guiando-o pela turbulência de sentimentos negativos que o jornalista tem. E ao quebrar a quarta parede, ele acaba falando conosco também. A cena mais icônica do filme certamente é quando o apresentador pede para Lloyd ficar em silêncio por apenas um minuto e pensar em todas as pessoas cujo amor o transformou em quem ele é hoje. Através de sua simplicidade a cena leva o espectador ainda mais para dentro da história fazendo com que pensemos também nas pessoas que nos transformaram através de seu amor.
As escolhas de direção de Marielle Heller são ousadas e funcionam perfeitamente para que o filme não se torne enfadonho e presunçoso. Ela transforma um herói em uma pessoa comum, gentil e que se esforça diariamente para ser assim. Cada um dos personagens é humanizado e conseguimos ver e entender seus conflitos. E a atuação de Tom Hanks certamente leva a obra a um novo patamar.