Crítica | Amor e Monstros

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Volta e meia a Netflix pode oferecer algumas obras mais do que interessantes, mas é raro que estas estejam no topo de seu top 10 de mais vistos. Não que esse “Amor e Monstros” seja, de qualquer forma, um filme original ou revolucionário, mas dentre os costumeiros a tomar conta do topo do serviço de streaming, este foi um dos poucos do ano que não me deixou com dor de barriga.

Trazendo uma mistura de “Zumbilandia”, “Scott Pillgrim” e o próprio “Maze Runner”, com o qual divide o ator protagonista, o filme de Michael Matthews traz Dylan O’Brien como Joel, um dos poucos sobreviventes de um apocalipse causado pela radiação dos mísseis que destruíram um asteróide que destruiria a Terra (sim, a primeira piada já vem na premissa), que decide vencer o medo e ir encontrar sua namorada pré-catastrofe em outra das colônias de sobreviventes.

Como disse antes, de maneira alguma o filme se diferencia a ponto de ser chamado de “original”, sendo que segue as mesmas batidas de vários desses acima, arriscando pisar em um território mais contemplativo quando sugere que a inversão dos papéis entre as espécies tem papel importante na narrativa, mas jamais se aprofundando demais nisso. O que acho que, de certa maneira, é bom, porque traria um grau de seriedade que o filme não procura, como a divertida narração de O’Brien sugere já no início. Não que não invista em momentos emotivos, pois pelo menos para mim, um amante de caninos, ver o pequeno Boy carregando o vestido da dona me faz balançar, mesmo que saiba que sua “atuação” se resume à ganhar biscoitos por acertar as tomadas.

Fugindo de alguns clichês, como aquele que (spoiler!) mataria o animal, Matthews consegue trabalhar a relação de Joel com Boy - mesmo que alguns dos plongés (aquele plano de cima-baixo) não pareçam estar bem enquadrados - ao fazer com que o primeiro supere alguns de seus medos por causa do segundo, naquele momento a única certeza que tem de não estar completamente sozinho. Criando também tensão ao sugerir que as criaturas estão sempre na volta, o filme mantém sua abordagem ao apresentá-las com um grau elevado de realismo, mas jamais tentando as fazer soar… reais demais, - se isso fizer qualquer sentido -, o que permite com que sintamos a apreensão por suas presenças, mas também possamos rir com piadas ala Marvel para descontrair.

Porém se o filme sucede moderadamente na relação homem-cachorro-monstro, ele falha ao criar vínculos humanos: (spoiler!) na cena onde Joel percebe que o que realmente precisava era a família que havia construído sob a terra, é difícil sentir qualquer coisa quando esta relação foi construída com rápidos relatos dele, sendo que não sabemos nada sobre nenhum dos integrantes da colônia. Contando com vilões unidimensionais e com um plano, no mínimo, estúpido, ao jamais cruzar a linha para a “galhofa”, fica difícil de comprar qualquer coisa daqueles conflitos se não a aflição que sentimos em relação à dupla de Joel e Boy. Também sinto como se a tal criatura que, em tese, seguia Joel, fosse absolutamente esquecida no final do filme, algo que já contava como sendo o embate final.

E se as cenas de ação empolgam pela energia, sinto como se o peso da jornada, que em tese deveria ensinar tanto ou mais do que o destino, nunca fosse sentido de verdade. Joel está sempre no mesmo humor, o que me fez questionar se tudo aquilo pelo qual passou fez qualquer diferença, ou em sua cabeça estava apenas a ilusão da memória que tinha de Aimee (os dois tem química, diga-se, mesmo que ela pareça ter um melodrama não apropriado para este filme), o que também poderia criar uma nova camada narrativa, mas logo é passado por cima.

Se arriscando pouco, mas acertando no pouco que tenta, “Amor e Monstros” é uma versão divertida de uma história já contada de diversas maneiras.

Eu veria uma sequência.

6.2

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