Crítica | Palavras que Borbulham Como Refrigerante

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Eu já tive muita vergonha dos meus textos.

Grande parte desse sentimento era devido à comparação. Quanto mais consumia conteúdo, mais me sentia leigo em assuntos que sonhava dominar e inepto a escrever sobre coisas que mais gostava. Era simples: o medo da não aceitação e do julgamento me paralisava e me impedia de fazer uma das coisas que eu amo, que é me comunicar.

Nesse sentido, que fique claro que não há idade para se sentir inseguro, e por isso o gênero coming-of-age é um dos meus favoritos. Assistir filmes como esse em questão significa refletir sobre como evoluímos como pessoas e contemplar alguns momentos tão inocentes e bobos que previamente representavam uma infinidade de sentimentos e sensações (ninguém morre por um coração partido, mas a primeira vez é comicamente brutal). Redescobrir o poder de descobertas e do quão idílica pode ser a vida é uma das coisas que mais me encanta no cinema.

Palavras que borbulham como Refrigerante conta a história de dois jovens e suas inseguranças. Ele (Cerejinha) é quase incomunicável. Usa grandes fones não porque ama música, mas por acreditar que isso vai impedir as pessoas de falarem com ele. Também não gosta de sua voz, então sua válvula de escape se torna escrever Haiku, poema japonês que deve conter 17 sílabas, geralmente contrapondo uma paisagem com uma revelação:

“Luzes na noite de verão
Dão uma largada falsa
Ao pôr do sol”

Já ela, do outro lado da equação, é uma influenciadora local. Ama se comunicar e usa suas redes sociais para mostrar coisas fofas de sua cidade para seus milhares de fãs. Todavia, Sorrisinho vive em constante ambivalência. Carrega consigo no apelido a coisa que mais “odeia” em si, e por isso, vive de máscara pra evitar mostrar os dentes maiores que o normal - além de usar aparelho, uma completa experiência de terror na adolescência.

O escritor Dai Sato nos apresenta dois personagens incríveis dentro de suas próprias peculiaridades, mas antes é necessário falar do que salta aos olhos de imediato: A animação incrível, os traços singulares e as cores vibrantes. É algo surpreendente tanto para os fãs de Anime quanto pra espectadores casuais. As linhas, ausentes da rigidez e meticulosidade, características do estilo, em conjunto com a explosão inexplicável de cores, evocam o verão instantaneamente. Por conseguinte, a direção de Kyouhei Ishiguro enfatiza a perpetuação dessa atmosfera veranil e amena sob os olhos de dois adolescentes. Visões panorâmicas de uma cidade urbanizada e ambientes bastante povoados demonstram que eles são apenas duas pessoas vivendo suas vidas e seus problemas no meio de um mundo enorme. Por outro lado, seus momentos mais especiais são geralmente sob o sol, um com o outro, com a câmera garantindo certo espaço entre eles e qualquer outra pessoa, dando liberdade para explorarem seus medos juntos, sem qualquer julgamento iminente.

Essa é a questão mais encantadora do filme: não há uma única coisa surreal no roteiro de Sato. Os personagens secundários são completamente palpáveis e aproveitados na medida certa. Talvez o final seja um pouco exagerado, mas a narrativa percorre seu trajeto com tanta calma que ele se torna completamente plausível. As inseguranças, que são tratadas com cuidado e veracidade, se desenvolvem em segundo plano (embora sejam a coisa mais importante do filme) como de fato deveria ser, assim como o romance, que é desenrolado nas entrelinhas de uma vida cheia de subtramas. No fim das contas, vivemos enquanto aprendemos a lidar com os nossos medos por meio de outras pessoas. É um processo diário e acompanhado, não uma epifania súbita solipsista.

E essa verossimilhança com a realidade e simplicidade que me transbordaram. Tanto Cerejinha quanto sorrisinho não insurgem contra suas próprias inseguranças sozinhos e as superam de uma hora pra outra. Quando o fazem, mesmo que no meio de um festival, tenho a impressão que as únicas pessoas presentes eram eles e nós. Engraçado como geralmente coisas de adolescentes parecerem maiores do que de fato são.

Yamazakura,
gosto das folhas
que você escondeu.

9

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