Festival de Cinema de Gramado 2020 | Dia 4
O Outra Hora está cobrindo o 48º Festival de Cinema de Gramado que ocorre entre os dias 18 e 26 de Setembro de 2020. Com um texto por dia expressando nossas principais opiniões sobre os filmes da noite anterior. O Festival é exibido todos dias às 20 horas no Canal Brasil, enquanto a Mostra Gaúcha ocorre no Globosat Play. Entrevistas e análises vão ser parte da nossa cobertura, acompanhe nossas redes para saber mais.
a quarta noite do festival foi destinada a documentários.
Filmes em suma simples, mas contando, de maneiras distintas, a história de seus países.
Destaque da noite:
O destaque fica por conta do documentário “O Samba é primo do Jazz”, da diretora Angela Zoé, que conta parte da trajetória de Alcione na vida e na música, com depoimentos marcados pelo carisma da cantora e com exibições mais do que agradáveis de sua voz.
Os Filmes:
Curta-Metragem Brasileiro: “Wander Vi”, 2020 – (DF), de Augusto Borges e Nathalya Brum
Sinopse: Wanderson Vieira é um músico da cidade de Samambaia e nesse curta documentário, nos conta um pouco como concilia seu trabalho noturno e ensaios de dança, com criar sua carreira, lançando seu pseudônimo Wander Vi, para alcançar seu sonho.
Crítica: Pra abrir a série de documentários, esse curta com uma pegada bem universitária conta uma história cada vez mais comum pelo mundo: um músico que grava, produz e empresaria o próprio trabalho, com um equipamento caseiro. Esse filme funciona especialmente na noite num constraste com o longa “O Samba É Primo do Jazz”, as duas películas contam histórias de artistas negros, uma consagrada como das maiores de todos os tempos e outro, que dá nome ao filme: Wander Vi. Bailarino, Auditor e cantor ele tenta viver a vida com belas músicas que compõem. Apesar de um pouco ingênuo, “Wander Vi” marcou boa presença no Festival.
Curta-Metragem Brasileiro: Extratos (SP), 2019 - de Sinai Sganzerla.
Sinopse: Extratos é um curta-metragem com imagens entre o período de 1970 até 1972 nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Londres, Marrakech, Rabat e a região do deserto do Saara. As imagens foram filmadas por Helena Ignez e Rogério Sganzerla no exílio, nos anos de chumbo. O filme é também sobre a esperança. Algo afável é possível mesmo quando há indicações do contrário.
Crítica: Utópico, nostálgico, poético e um pouco mágico. Um pouco do que é essa abstrata experiência de audiovisual.
Longa-Metragem Brasileiro: O Samba é primo do Jazz (RJ), 2020, de Angela Zoé
Sinopse: O documentário O Samba é Primo do Jazz vai mostrar a trajetória musical de Alcione Dias Nazareth, a nossa grande intérprete brasileira, a partir de suas referências musicais, sua inserção no mundo da música e sua relação com família e amigos. A cinebiografia nos aproxima de uma Alcione descontraída, divertida e matriarcal com a vida e o fazer artístico.
Crítica: Como seu belo nome sugere, o documentário de 70 minutos é sonoramente delicioso do início ao fim, alternando bem as canções de Alcione com cortes de seu processo criativo, antigas entrevistas e onde ela se encontra hoje consigo mesma.
Contando com o carisma da Marrom, o filme ainda tem uma paleta de cores, propositalmente… marro! Aconchegante e calorosa, acompanhando o andar do filme. A diretora apenas peca em delinear um norte certo ao projeto, que parece mais um programa de TV extendido do que um filme próprio, sendo que por mais interessante que seja a personagem que acompanha, nunca fica claro o que realmente estamos assistindo.
Longa-Metragem Estrangeiro: El gran viaje al país pequeño (Uruguai), de Mariana Viñoles
Sinopse: Partindo do encontro do diretor com os protagonistas de um campo de refugiados, o filme acompanha o processo de adaptação de duas famílias sírias que, tendo deixado suas terras e tradições para trás, começam uma nova vida em um país distante do qual nada sabiam, chamado Uruguai.
Crítica: Para nós brasileiros o Oriente Médio é praticamente um outro mundo.
Onde costumes, culturas e comportamentos são tão diferentes dos nossos que fica difícil imaginar que seja possível “misturar” nosso jeito de viver com o deles. Pessoalmente, sempre fui e continuarei vocalmente contra qualquer cultura que diga que mulheres tem de cobrir o rosto ou o cabelo (os excepcionais “Persépolis” e “A Ganha Pão” são perfeitos para a temática), por mais que assistir como estas pessoas lidam com a cultura onde nasceram e cresceram sempre me faça abrir os olhos para a forma como a encaram.
Pouco preocupado em chocar com imagens reais, mas com uma taxa comovente de depoimentos de seus entrevistados, o documentário tem pouco valor de repetição e até mesmo dificuldade em prender atenção, mas a densidade de seu conteúdo o torna interessante para todo e qualquer que se interesse pelo assunto.
Em um mundo tão conturbado como o nosso, ver um país tão pequeno como o Uruguai recebendo refugiados é algo no mínimo reconfortante, e ver como os jovens ainda conseguem se adaptar e serem felizes, ao contrário dos adultos que já mostram amarras permanentes, é também um sinal, mesmo que mínimo, de esperança.