Crítica | Ponto Vermelho

O primeiro filme Sueco da Netflix é, também, um dos piores filmes de 2021. E estamos em fevereiro.

Dirigido por Alain Darborg e escrito por este e Per Dickson, “Ponto Vermelho” é um reciclado de filmes do gênero, vários passados na neve ou em qualquer outro cenário. A seguir, explico o porquê de ter desgostado tanto deste filme, revelarei detalhes da trama, mas saibam que isso de pouco importa porque o que não for óbvio à primeira vista, se torna logo depois de você perceber que já assistiu a este filme antes (inclusive, a própria Netflix lançou um bem semelhante, também situado no gelo, menos de um mês atrás). Existe um valor considerável em assistir filmes ruins e entender o que faz deles ruim, e apesar de não achar que este seja um daqueles desastres catastróficos, acho que merece uma crítica especial.

Iniciando o longa com um pedido de casamento que poderia ser divertido por se passar em um banheiro, mas se torna insosso e sem sal, Darborg comunica que tem pouca ou qualquer intenção de desenvolver seus dois personagens. Uma cena mostra que se casaram, menos de meio segundo depois já estão juntos a tanto tempo e claramente em crise, e em outro meio segundo descobrimos que ela está grávida, mas não sabe se quer ter o filho, ao passo que o vizinho (ha!) a conforta. Logo depois, os dois decidem fazer uma super racional viagem para verem a Aurora Boreal enquanto acampam em um deserto de gelo. É claro que eles levam o cachorro, e é claro que vocês já descobriram o que acontece com o pobre animal.

Bom, vamos pensar no que acontece neste primeiro ato: somos apresentados a duas pessoas que se gostam sem sabermos o porquê, e temos absolutamente nenhum motivo para simpatizar com elas exceto pelo fato de que estão grávidos (sim, a criança é um recurso de roteiro para gerar empatia). Porém as coisas ficam pior quando encontram dois caçadores em um posto de gasolina e estes demonstram um comportamento machista e racista perante… (pesquisando o nome dos personagens)… Nadja. Bem, aí estão os vilões que vão ameaçá-los depois, certo? Claro que não, e essa é a mais típica de todas as distrações. Mas enfim, a dupla bate o carro no dos caçadores ao sair do posto, sem querer, e decidem não esperar para resolver. Até aí tudo bem, mas ao descobrirem que os dois estão NO MESMO hotel (o que eles fizeram com o alce morto?) e verem um arranhão em seu carro no outro dia, Nadja tem a brilhante ideia de arranhar o carro dos dois de volta, demonstrando não apenas que o casal não é composto por seres humanos racionais, e sim personagens que TEM de arranjar problemas, nos tirando ainda mais de seu lado como protagonistas.

Logo, quando finalmente o tal ponto vermelho aparece, as coisas parecem melhorar, pois é inegável que há tensão na situação, mas o diretor consegue quebrá-la e dissipá-la por completo ao oferecer um terrível controle do tempo da narrativa, sendo que do nada horas se passam, e não há qualquer lógica geográfica envolvendo o paradeiro dos dois. Além disso, o que é aquele POV (como se os dois segurassem uma GoPro) quando o casal começa a correr? Em um momento absurdo no ato final, a dupla sai de casa e tem uma eternidade até que o vilão torne a perseguí-la.

Mas se já ali a lógica deveria ter sido abandonada para tentar explicar o que acontece em “Ponto Vermelho”, o que acontece a seguir desafia meu cérebro como espectador e, pior ainda, destrói a discussão moral que o filme tenta construir.

Quando apresentados à chances genuínas de escapar daquele pesadelo, Nadja e (pesquisando de novo) David simplesmente assassinam os homens de antes que, na verdade, não eram os bandidos, mas como se isso não fosse o bastante, nos é revelado que era o VIZINHO que os estava perseguindo porque, anos atrás, o casal havia assassinado seu filho em um acidente de carro. E tudo bem, o plano do homem de se aproximar do casal (que não desconfiava de sua identidade) não é original, mas causa um calafrio aqui e outro ali, porém assim como “Abaixo de Zero”, imediatamente começamos a não apenas compreender suas motivações, mas torcer pelo vilão. Nadja e David são pessoas terríveis, em todos os níveis, que agem sem lógica e não demonstram compaixão em qualquer momento. E se houvesse espaço para um comentário sobre justiça, ele se esvai no momento que Thomas (o vilão) matou o pobre cachorro que nada tinha a ver com a história apenas para o prazer de qualquer doente que goste de ver animais dilacerados.

Capaz de provocar tensão apenas por causa de sua premissa e cenário (o qual o diretor não consegue utilizar a seu favor), “Ponto Vermelho” é um filme estúpido em seu comentário, péssimo em sua execução e que termina sem oferecer absolutamente nada que sequer justifique sua existência. No fim, ninguém aprendeu nada, muitas pessoas inocentes morreram, e nós só não ligamos o suficiente para nos importar com nada que ali acontece.

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