Crítica | Frankie
Ao final do filme, em plano aberto vemos o Oceano e um penhasco com os personagens no canto da tela contra a luz. A elegância dessa imagem talvez seja o que melhor defina “Frankie”, um filme com alma e alguma leveza em contar a história de uma atriz com uma doença que reúne sua família para férias na bela cidade de Sintra.
A direção é bonita, como tendem a ser os filmes franceses, mantém longos planos apesar do diretor Norte Americano, Ira Sachs, demonstrar algumas inseguranças no enquadramento dos personagens perdendo oportunidades de ampliar o aspecto dos relacionamentos. Com um roteiro seguro que não se sobressai da mesma maneira que não se mata, o filme acaba tirando bons momentos de história e de atuação e, por mais subjetivo que seja, certamente não agradará a todos e ele não se pretende a isso, pois é, no máximo, uma história familiar.
A construção se dá numa espécie de janela para isso, de forma que pouco a pouco vamos conhecendo e entendendo a dinâmica dos personagens, assim como o motivo da viagem que vai ficando cada vez mais nítido. Pelas ruas da cidade turística novos personagens aparecem e a protagonista convida uma amiga que ela deseja casar com seu filho. O elenco é a melhor parte, além de Isabelle Hupert dar um espetáculo, Brendan Gleason, que faz seu marido, demonstra a fraqueza de um homem que foi forte a vida inteira, mas não sabe como prosseguir sua vida, Marisa Tomei interpretando Irene, a amiga maquiadora de cinema que aparece de surpresa com seu namorado, deixa aparecer cada comentário que Frankie faz sobre ela, sobre sua força, sobre o tipo de mulher que é. Mas são Jérémie Renier e Sennia Nenua, como Paul e Maya, filho e enteada de Frankie, que mais se destacam, conciliando conflitos com uma certa estranheza e fraternidade que revelaram o motivo de ser no clímax do filme, um tema difícil e surpreendente interpretado durante toda a projeção, perfeitamente sem o conhecimento do público.
Plasticamente bonito, o que seria difícil tendo o cenário natural que tem, seus espaços e figurinos são bem construídos, apesar de algumas obviedades (personagem jovem usa All Star, personagem triste usa roupas cinza etc). Há uma identidade bem resolvida para cada personagem e são 10, então é um trabalho delicado e discreto. Além disso, cada um desses (uns mais outros menos) têm papéis relevantes para a história, seja direta ou indiretamente, que demonstra o cuidado do roteiro que, mesmo com esse alto número de personagens, pouquíssimas vezes temos mais de dois em cena ao mesmo tempo, dando espaço para a contribuição individual para a trama aparece.
O que me incomoda é o sentimento de desperdício dos cenários, especialmente os construídos. A aposta em planos fechados com só um ator por vez durante a maioria dos diálogos atrapalha a dinamização e é um dos fatores que deixa o filme lento, cada plano poderia ser uma pintura e, nesse caso, Sachs não soube aproveitar o potencial disso, apesar de encerrar com dois planos magníficos - o primeiro já mencionei - com o pôr-do-sol ao longe em que mesmo não vendo os personagens conseguimos entender o desfecho de cada um deles. O segundo deles é o penúltimo, um close na cara de Frankie enquanto ela compreende que seus planos para sua família não vão sempre seguir de acordo com seu plano. Huppert toma toda a tela e sem falar uma palavra passa toda a sentimentalidade de sua personagem.
“Frankie” é uma história de aceitação. A protagonista tem que lidar com as pessoas que a idolatram e perguntam da sua carreira sabendo que provavelmente não trabalhará mais, seu marido precisa entender como continuará sua vida, seu filho ainda precisa aceitar a maneira como a mãe tenta arrumar o seu futuro. Outro desperdício são as brincadeiras com o aspecto místico da cidade em que se passa e das superstições do povo português, que ficam apensar como piadas, quando poderiam amarrar melhor alguns personagens. Além de lidar com sua vida, a protagonista vai entendendo durante o filme que não vai conseguir ajeitar a vida das pessoas que ama. Como no começo, no final só temos aquilo que vimos, um recorte na vida dessas pessoas, que amam, choram, odeiam e perdem como qualquer um, o tema do filme está na maneira em que cada um se relaciona com suas histórias, bem construídas.