Crítica | O Chamado da Floresta
A nova adição ao “Filme de Cachorro Cinematic Universe (FDCCU)”, como brincou um colega do site, é um filme simples, que não toma riscos e apela a sentimentalidade ou não que vamos criar por um cachorro muito fofo, basicamente é um filme que não fede nem cheira. E se na crítica de “Cats” fiquei devendo piadas de gatos, nessa não deverei.
Bucky é um cachorro gigante, e muito bem construído digitalmente, forte e mimado que vive uma vida de Rei na Califórnia, até ser sequestrado e levado para o norte profundo, na época das buscas de ouro no círculo ártico. Recheado de estrelas como Harrison Ford, Omar Sy, Karen Gillan e Dan Stevens o filme parece que dependerá só disso e dos seus cachorros para o sucesso, sem necessitar e abrindo mão de aspectos narrativos, não há muito para se analisar na história, pois ela se desenvolve de uma forma pouco coerente.
Há uma pequena animação abrindo o filme, contando a história da Febre de Ouro no Norte, enfatizando a necessidade de cachorros para puxar os trenós usados na região. Passamos para uma cidade californiana ensolarada onde um cachorro anda pela rua fazendo o que bem entende, momento em que a lamentável narração de Harrison Ford começa a marcar presença: “Bucky fazia o que queria, pois era do juiz da cidade” seguido de Bucky lambendo um pedaço de gelo que duas pessoas levavam, uma tenta impedir e outro fala “ele é do juiz, pode fazer o que quiser”. Como John Thornton (Ford) nos relembra no final, a vida de Bucky é dividida em três momentos: o mimado vivendo com um juiz na Califórnia, o que conheceu a crueldade humana e o livre, dono do seu próprio destino. O que bom, é contraditório com a história do próprio filme.
Quando essa fala foi escrita, o melhor momento não foi considerado, Bucky se adaptando a uma matilha, aprendendo a viver como cachorro, sem nenhuma crueldade, apenas sendo mais uma parte do grupo. Que são os momentos que seguem seu sequestro e chegada no Alasca. Nessa parte da história há as duas melhores atuações também, Perrault e Mercedes (Omar Sy e Karen Gillan), os dois carteiros que compram Bucky para ajudar a levar seu trenó. Nesse arco vemos o protagonista deixando de ser um cachorro doméstico e seguir seu espírito até se tornar um líder. Infelizmente essa excelente sequência termina mais ou menos na metade do filme, quando a linha postal é fechada e também é quando Thornton entra na narrativa em que ele apenas narrava redundantemente até então.
O filme é bonito, os cenários são bem desenhados, as texturas e cores do inverno, da primavera e do verão são vivas e criativas, criando um ambiente deslumbrante para o cinema. Os animais são bem criados, impressionando nos detalhes dos pelos e dos músculos e também pelo número grande de animais digitais, Bucky especialmente é fofo demais, sua cara é um pouco antropomorfizada (só em pequenos detalhes) para criarmos ainda mais simpatia pelo cachorro que nos é apresentado como brincalhão e depois aprende a ser solidário, um arco difícil de errar, não é? Realmente nessa parte não há mais problemas. O roteiro não é progressivo, de forma que o que acontece parece só algo a mais, não uma consequência ou causador do próximo momento. A questão central é que são basicamente duas histórias contadas com Bucky como protagonista que não são construídas de maneira cinematográfica, afinal é uma adaptação da literatura e parece preso à obra original. Os problemas e obstáculos são resolvidos com muita facilidade e não escalam, são homogêneos.