Crítica | A Favorita

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A Favorita capta a excentricidade e a necessidade da disputa de poder dentro da corte. 

O longa traz questionamentos: Como as pessoas são dependentes uma das outras, quais são as válvulas de escape utilizadas para nos livrarmos dos traumas que a vida nos causa e o que estamos dispostos a fazer para conseguir o que queremos. 

Lady Sarah (Rachel Weisz) é a favorita; amiga, conselheira e amante da frágil e impulsiva rainha Anne (Olivia Colman). O relacionamento entre as duas se torna conflituoso com a chegada da inocente prima de Sarah, Abigail (Emma Stone). Enquanto Lady Sarah é quase uma eminência parda, Abigail faz o necessário para se tornar a nova favorita da rainha. 

O longa é uma peça histórica. Contextualiza o momento, porém mostra apenas as relações e intrigas que ocorrem no palácio. Jamais revelando momentos de campos de batalha. Assim tornando o filme preciso sobre a dinâmica feminina, com poucos personagens masculinos ativos.

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A montagem criativa, com uma fotografia levemente experimental e somada a uma incômoda trilha, tornam o filme uma construção que inicia cômica e progressivamente torna-se uma trama perturbadora, utilizando tais elementos para causar inquietação no espectador. O momento em que a tensão chega ao seu ápice, o filme encerra brilhantemente.

Rachel Weisz é seletiva e sábia ao escolher suas participações. Além de protagonizar “A Favorita”, em 2018 participou do emocionante e necessário romance “Desobediência”. Emma Stone se desvincula da imagem de menina boa e se entrega ao papel que se assemelha em algum nível com a personagem Eve Harrington (“A Malvada”) e finaliza com a mesma sina. A química das duas em cena traz angústia ao espectador, porém a sensação é que piscar os olhos se torna uma ação desnecessária para não se perder uma fração de segundo do que está na tela.

Assim como a personagem, sendo a rainha, Olivia Colman é a atração desse filme; a peça central. Anne é uma mulher que sofreu muito em sua vida. Especificamente sofreu dezessete abortos e sua maneira de lidar com isto é criando coelhos, e além de ser apegada aos bichos de estimação, possui uma compulsividade alimentar. Hoje em dia, seria diagnosticada com depressão profunda, provavelmente. Na corte era tratada apenas como uma rainha excêntrica, extremamente negligente com as tarefas governamentais. Para Sarah e Abigail a escolha de dependência de Anne era propícia. Com olhares vazios, com expressões medonhas, a rainha é a gravura da alienação e ignorância do que existe na sociedade. Olivia Colman nesse filme justifica todo sucesso que tem no seu caminho. 

Esse filme carrega a voz ativa do protagonismo feminino. No entanto não significa ausência total de homens. Robert Harley (Nicholas Hoult) merece ser citado pela excepcional e venenosa performance que entrega, interpretando uma das cenas mais hilárias dessa tragicomédia de humor negro.

A favorita merece toda celebração que está recebendo. O filme caminha em direção ao Óscar como uma promessa, ou talvez com estatuetas marcadas. Comprovando que a construção de personagens femininas com profundidade e controvérsia é uma receita de sucesso.

9.5

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