Crítica | Convenção das Bruxas
Do diretor de “Forrest Gump” e “De Volta Para o Futuro”, Robert Zemeckis, “Convenção das Bruxas” é um filme de fantasia para toda família.
Apoiado em um grande trabalho de computação gráfica, “Convenção das Bruxas” é o novo filme fantabuloso lançado nos cinemas pela Warner adaptado tanto do livro “As Bruxas” de Roald Dahl quanto do filme homônimo de 1990 aposta na nostalgia com o público do primeiro filme. Como boa fábula, explora o imaginário sobre a presença de bruxas vivendo entre humanos, criaturas puramente cruéis, que odeiam crianças e as transformam em animais dando doces enfeitiçados, que tem garras no lugar das mãos uma boca cheia de dentes afiados. Estrelando Octavia Spencer e Anne Hathaway nas personagens de Avó e a Grande Bruxa, além de contar com narração de Chris Rock, “Convenção de Bruxas” falha em criar uma atmosfera emocionante e não é competente para contar sua história, com um roteiro confuso que parece não entender as diferenças narrativas entre cinema e literatura.
A cena inicial do filme coloca a sala de cinema em tela, a partir de imagens geradas por um projetor em uma parede, vemos as cabeças de um público que recebe explicações sobre a existência de bruxas, a narração sobre imagens se torna a história do nosso protagonista, interpretado por Jahzir Kadeem Bruno quando criança e narrador da história. Sua história começa de maneira trágica, o Garoto se torna órfão em um acidente de carro e vai morar com sua avó (Spencer) no Alabama, até que um dia uma bruxa decide ir atrás da criança fazendo com que ele e Avó se escondam em um hotel de luxo, onde acreditam estarem salvos, mal sabem eles que é esse o local onde seus problemas de verdade se encontram, porque um grupo de bruxas está hospedado no hotel criando um plano maligno para transformar todas crianças do mundo em ratos. A história tem relações com a infância da própria Avó, que quando criança encontrou uma bruxa que transformou sua melhor amiga em uma galinha e por isso ela sabe algumas maneiras de proteger seu neto.
“Convenção das Bruxas” é um filme leve e divertido, qualquer criança e adulto pode assistir e dar algumas risadas se encantando com uma performance sensível de Spencer e uma atuação hiper-caracterizada de Hathaway que é capaz de prover os momentos mais divertidos do longa, mas se tiveralguma expectativa além dessa, o espectador vai sair decepcionado. A história é arrastada e no primeiro ato não há muitas maneiras de nos conectarmos com os personagens, obviamente sentimos a tristeza de um menino que fica órfão, mas porque estamos pré condicionados a isso, o protagonista em si passa a maior parte do tempo quieto e se isso é uma representação da tristeza que sente, também afasta o espectador da história. Quando as coisas começam a andar na relação com a Avó e os problemas começam, a sensação é mais próxima de se estar jogando um videogame do que vendo um filme, pois os eventos parecem mera burocracia para desencadear o próximo evento, depois o próximo, até o infinito, até existem consequências mas, por algum motivo, as consequências das ações dos personagens não afetam a história do filme criando no máximo contratempos rapidamente resolvidos o que tira o propósito de boa parte das cenas.
Eu escolhi não ter contato com o filme anterior de “Convenção das Bruxas” e nem com o livro que o originou para que possa dar aqui minha opinião sem comparações injustas com obras feitas com outras intenções, o que acaba prejudicando a análise sobre algumas escolhas, mas independente do que foi escrito para a literatura, algumas coisas parecem fora de lugar para um filme, para mim, a principal é o fato do protagonista ser transformado em um rato no meio do filme em uma cena que começa com poucas pretensões e imediatamente já estar conformado com isso. A sensação é do maior risco possível acontece meio por acaso e as coisas seguem sem nenhum problema mesmo com o protagonista tendo sido transformado em um rato, a única consequência disso é que o Menino versão roedor fala muito mais (será que foi alguma dificuldade com o ator no set?) e é mais criativo do que era quando humano já na primeira cena com seu corpo novo. Tem uma história para ser contada em “Convenção das Bruxas”, mas na versão de 2020, pelo menos, só há uma série de eventos com pouco engajamento emocional e muito efeito visual.